sexta-feira, dezembro 30, 2005
A maldição dos lugares marcados
Como sou um tipo fino, comprei atempadamente o meu bilhete em 1ª classe, com marcação de lugar, válido para comboio alfa-pendular, etc, etc...
Mas que raio se passa na cabeça das pessoas que insistem em não se sentar nos lugares para os quais têm marcação?
É tão irritante, depois de entrar no comboio, reparar que temos um tipo instalado no nosso lugar, com a tenda montada, meio a dormir.
E depois todo o processo - Desculpe mas acho que está sentado no meu lugar!
- Ah, pois - e lá começa a arrumar as tralhas, o cumputador, a mala, o casaco, e eu parado no meio do corredor com 50 pessoas atrás de mim a querer passar, e o passageiro do lado a ter que se levantar para dar passagem ao prevaricador.
No regresso o mesmo cenário. Entro na Gare do Oriente e lá estava um borgesso, entrado em Santa Apolónia, sentado no meu lugar. Porquê? Porquê?
I'm back
Não é uma promessa daquelas que se fazem quando começa um novo ano mas, a partir de agora, vou tentar manter um comentariozinho diário sobre aquilo que me apetecer, e com imagens também.
sábado, julho 30, 2005
Descoberto o 10º planeta
A descoberta foi anunciada hoje por cientistas do CALTEC (California Institute of Technology).
E assim, após mais de um mês de ausência, aqui deixo duas descobertas astronómicas de uma assentada.
Vamos lá ver se começo a ter mais tempinho para escrever...
Enceladus - um pequeno mundo em actividade
A nave Cassini decobriu uma grande nuvem de vapor de água sobre o pólo sul desta lua que se pensa ser devido à evaporação de gelo existente em fracturas da sua superfície e que é aquecido devido a actividade vulcanica.
Os equipamentos da nave já identificaram vapor de água na atmosfera desta lua, com uma concentração de cerca de 65%! O gás restante é na sua maioria dióxido de carbono.
segunda-feira, junho 20, 2005
A propósito do post PONTE, NÃO PONTE... VALE E HOTEL
A propósito do post que lá encontrei, e que poderão ler usando o link acima, ocorre-me este comentário:
Eu protestei na Assembleia Municipal pelo atentado ao Pinhal Sottomayor.
Eu critiquei em várias ocasiões os atentados urbanísticos na Figueira, nomeadamente as urbanizações em cima das linhas de água (e não só a linha de água do Vale do Galante).
Eu critico agora este atentado urbanístico que se pretende para a Ponte do Galante e respectivo Vale. Não é a construção de um hotel que está em causa. É a transformação de um projecto para um hotel de 4 andares em um Aparthotel de 16 a que se juntam diversos edifícios com 7 andares.
A vista de minha casa já a tiraram há muito tempo. Se essa é a motivação de alguns, não é a minha . Contudo, todos somos munícipes com direitos e deveres. E se temos o dever de pagar IMH mais elevado que os restantes munícipes por causa da localização (o da minha casa foi agravado o ano passado em 1000%!), também temos o direito a usufruir dos pressupostos subjacentes.
O que se prepara para a zona do Galante (Vale ou Ponte) é algo que viola as mais elementares regras de planeamento urbanístico. O excesso de construção em altura e o excesso de concentração de habitações, a inexistência de infraestruturas de apoio adequadas, são motivos mais do que suficientes para qualquer munícipe que goste da sua cidade ficar apreensivo.
No Algarve temos lado a lado o exemplo e contra-exemplo do que se deveria fazer em termos turísticos. Falo de Quarteira e Vila-Moura. Para onde vai o turismo de qualidade? Para onde gostam as pessoas da região de ir passear? Qual o local que serve de referência nos cartazes turísticos a nível mundial em termos de destinos de qualidade?
A Figueira perdeu uma oportunidade de ouro de se transformar na Vila-Moura da Beira-Litoral e caminha a passos largos para uma Quarteirização degradante. Os responsáveis são em primeiro lugar o Eng. Aguiar de Carvalho, seguindo-se os ilustres Pedro Santana Lopes e Duarte Silva. Mas também os figueirenses não estão isentos de culpa por permitirem que se chegass a este estado de coisas.
Se agora há um movimento de munícipes que se opõe a um crime, e tem força para o fazer, ainda bem. Eu sou um deles e continuarei a protestar sempre que puder quer seja pelo caso do Galante, quer seja pela selvajaria urbanística que grassa na encosta sul da Serra da Boa Viagem, ou pelo atentado ambiental permanente que a Cimpor leva a cabo há anos no coração da mesma serra, ou pela vergonha dos esgotos não tratados que ainda jorram para o rio. Infelizmente poderia continuar a dar exemplos ad nauseum.
Em conclusão, não concordo que erros passados legitimem erros futuros. A minha visão para a Figueira não é a do Carnaval Eléctrico no Verão para chamar o turista de pé descalço (e não vejam nas minhas palavras qualquer desdém pelos turistas de pé descalço - eu já dormi à porta de prédios nas ruas de Paris e passei fome em Barcelona).
Eu e muitos figueirenses desejamos um cidade para as pessoas, harmoniosa e equilibrada sob o ponto de vista ambiental e urbanístico. Desejamos uma cidade de referência no turismo de qualidade e, ao mesmo tempo, uma cidade que não seja madrasta para os seus filhos.
E decididamente não é este o caminho.
terça-feira, junho 14, 2005
Álvaro Cunhal
Deixo apenas esta pequena história, algumas vezes contada pelo meu pai em saudosos serões de amigos.
Numa altura após a fuga de Cunhal da prisão, este passou uns tempos numa casa clandestina perto da Figueira da Foz, mais precisamente nas Alhadas.
Por esses dias o meu pai, que se fosse vivo seria 3 meses mais velho que ele, estava acamado com uma hepatite. Um dia, correndo grandes riscos, visitou-o e levou-lhe frutas cristalizadas. E insistiu imenso para que as comesse, o que era penoso para alguém com uma hepatite. O meu pai também tinha estado preso, mas apenas 3 semanas.
Não se voltaram a ver.
Esta história foi-me contada há muitos anos. E foi-me contada tantos anos após ter tido lugar que mais parecia uma fábula. Mais pormenores havia que agora não interessam e outros de que já não me recordo.
quinta-feira, junho 02, 2005
Sócrates pode ter pensão
O Primeiro-Ministro está em funções, não está ainda em idade de se reformar, não disse se iria pedir a reforma a que tem direito, nem manifestou qualquer opinião sobre o assunto.
No entanto, e em contraponto à notícia da reforma de Alberto João Jardim, essa sim já concedida, o DN vem assim fazer uma espécia de contra-ataque populista, como quem diz, "Estes políticos são uns falsos, decretam medidas a que eles próprios não se sujeitam, só querem tacho, etc..."
Uma notícia curiosa teria sido, na sequência do anúncio da limitação dos mandatos políticos, e tendo em conta a ideia que se formou de que essa lei tinha como destinatário o tio Alberto João, anunciar: "Mesmo com a lei de limitação de mandatos dos cargos políticos, Alberto João Jardim pode continuar no cargo por mais 12 anos." Dita assim, até pareceria que a lei era feita para beneficiar quem supostamente deveria atingir. A arte da manipulação de informações é interessantíssima.
É assim algum jornalismo em Portugal. Populismo à lá Moura Guedes, opiniões onde deveriam estar notícias, falta de isenção e objectividade.
sexta-feira, maio 27, 2005
"Promotores do Galante contra velhos do Restelo"
Nele o empresário António Marques da empresa Foz Beach considera-se magoado com a contestação em torno do seu projecto urbanístico.
É natural que o Sr. Marques se sinta magoado pois está a perder imenso dinheiro. E deverá sentir-se ainda mais magoado à medida que o tempo for passando e o seu projecto continuar parado.
Argumenta que “os críticos do verde são os mesmos que deixaram abater a mata Sotto Mayor”. Não percebo esta afirmação. Será que quis dizer "os críticos verdes"?, ou "simpatizantes do verde"? Em todo o caso, sendo eu um dos críticos do seu empreendimento, considero que a destruição da Mata SottoMayor foi mais um atentado a acescentar à panóplia de crimes cuja responsabilidade começou com o Eng.º Aguiar de Carvalho e pretende agora ser continuada com o actual presidente da câmara, Eng.º Duarte Silva. Gostaria muito que nessa altura também tivesse havido condições para travar tamanho atentado urbanístico, mas a mobilização dos figueirenses é algo que ainda deixa muito a desejar.
O sr. empresário Marques afirma que vai ajudar a requalificar a Avenida do Brasil. Gostava de saber em que medida a construção de um edifício de 16 andares, rodeado de vários outros de 7 andares, contibui para a requalificação urbanística. Gostava de saber quais as vantagens ao nível do planeamento urbanístico, de concentrar 180 apartamentos numa zona já de si sujeita a imensas pressões. A estes, deverão ser acrescentados os apartamentos do suposto aparthotel - sim, porque o projecto inicial contemplava um hotel de 4 andares e, posteriormente, passou a aparthotel, tornando muito mais fácil a sua comercialização posterior como apartamentos -
Gostava de conhecer o estudo de mercado que demonstra a necessidade da Figueira possuir mais 600 camas, tendo em conta que o ano tem 365 dias, e não apenas os 30 do mês de Agosto.
Gostava de saber em que medida a coação e a ameaça são considerados métodos associados às políticas de desenvolvimento de uma cidade.
Esta história ainda agora vai no seu princípio. Mais desenvolvimentos se esperam para os tempos mais próximos. Até lá, vamos tentar não nos magoarmos muito uns aos outros.
quinta-feira, maio 19, 2005
O choque tecnológico
Ó Jaquina, diz aqui no site da Segurança Social que vamos ter um aumento de 3 eurios...
terça-feira, maio 17, 2005
O eterno défice
Gostava de ouvir agora a opinião de Durão Barroso sobre um defice estimado em 7%. Não chegaria o discurso da tanga, nem o do nudismo completo. Talvez tivesse que se socorrer do discurso da doação de órgãos.
Neste cenário, Marques Mendes levanta a voz, clamando por medidas, entre as quais um orçamento rectificativo. Afinal o orçamento que ele alegremente aprovou e apoiou não serve? Afinal os governos que ele e o seu partido apoiaram foram assim tão incompetentes (para ser simpático)?
Marques Mendes faria melhor em estar calado, deixar passar esta fase sem fazer ondas, porque quanto mais fala mais chama a atenção para a calamitosa asneira que foi manter no governo a cáfila de correligionários seus que nos deixou nesta situação.
Agora Sócrates está metido num imbróglio inversamente proporcional à estatura do líder da oposição.
Prometeu em campanha, e após tomar posse, que não haveria portagens nas SCUTS. Prometeu que não seriam aumentados os impostos. Prometeu que não poderia haver mais congelamento de salários na Função Pública.
Quando Manuela Ferreira Leite chegou ao governo, aumentou o IVA, congelou as admissões e os salários da Função Pública por dois anos, acabou com as reformas antecipadas, acabou com o crédito bonificado (e bem), meteu portagens na CRIL (ou na CREL?), etc., etc. O resultado está à vista.
Com o petróleo a manter-se teimosamente acima dos 50 dólares por barril (estava a 35 quando Durão tomou posse!) e com o país que o elegeu cansado de sacrifícios, Sócrates não tem muita margem de manobra. Parece-me que o fim do seu estado de graça está para breve.
Em último caso podemos sempre vender isto aos espanhóis e ir de férias.
domingo, maio 15, 2005
Fátima Lopes e as peles
Parece que há mais do que uma espécie de humanos.
Vejo pessoas a alimentar animais abandonados ou selvagens, pelo simples prazer da sua observação, por compaixão, ou porque se sentem melhor de algum modo por o fazerem.
Vejo pessoas a salvar pássaros feridos, gatos vadios, cachorros abandonados...
E depois, a mesma espécie humana é capaz das mais selvagens atrocidades, em relação a outros seres humanos e também em relação a outros seres vivos.
Não é para pessoas sensíveis mas este vídeo é educativo .
quinta-feira, maio 12, 2005
O grande quarteirizador começou cedo
"Em 1994, a construção do projecto da Herdade da Vargem Fresca, que já conta com as devidas autorizações e o apoio do Município de Benavente, apenas enfrenta um obstáculo o montado de sobro. São cerca de quatro mil árvores protegidas e cujo abate apenas poderá ser efectuado por manifesto interesse público.Nos últimos dias do mandato, o ministro da Agricultura, Duarte Silva (PSD), autoriza o abate invocando o único argumento permitido pela lei. Porém, alguns meses mais tarde, a decisão é revista pelo novo ministro, Gomes da Silva (PS), que mesmo assim não impede o abate de 1700 árvores."
Toda a notícia aqui
Padre considera aborto mais violento do que matar uma criança
Santana Lopes solidário com Nobre Guedes, Telmo Correia e Costa Neves
Santana até já está habituado a ter amigos na prisão, tais como José Braga Gonçalves - o tal que tentou comprar o semanário a Linha do Oeste.
quarta-feira, maio 11, 2005
Ivo Ferreira libertado
Ainda há histórias que acabam bem.
De saudar a actuação do embaixador português António Monteiro. Apesar dos fundamentalismos, é também de louvar a compreensão e colaboração do xeque Mohammad Din Rashid Al Maktoum, Crown príncipe do Dubai e ministro da Defesa dos Emirados Árabes Unidos e do ministro dos Negócios Estrangeiros Rashid Abdula Al Naimi e do vice-ministro, Abdula Rashid.
Ivo Ferreira tem agora um argumento fresquinho para um novo e empolgante filme.
quinta-feira, maio 05, 2005
Manifestações em Timor
Que beleza.
Quando o exército indonésio andava nas ruas, não se atreviam a trazer a bonecada para as manifestações.
Agora, graças à liberdade conquistada pelos que deram a vida e por outros que se sacrificaram e arriscaram, a igreja timorense pode fazer estes espectáculos circenses, pondo em causa a paz e o bem estar de um povo, tão duramente conquistados
segunda-feira, maio 02, 2005
Isto é que eu estou contente...
Vale a pena não desistir
sábado, abril 30, 2005
no largo da má língua
Revoltante como no século XXI ainda não se consegue controlar certas doenças. E quando nos vêm com questões éticas sobre a clonagem terapêutica, que mais dizer...
terça-feira, abril 26, 2005
O código secreto da Tora
O esquema funciona da seguinte maneira: todas as letras e palavras que formam o texto da Tora, na versão hebraica, são colocadas nas páginas respectivas de modo a que não haja espaços em branco entre as frases. Depois, usando um programa informático desenvolvido para o efeito, são procurados conjuntos de palavras que formem algo com sentido. A construção das palavras é feita da mesma forma usada nalguns passatempos de palavras cruzadas, ou seja, as palavras podem ser construídas de baixo para cima, da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, em diagonal, etc...
Usando este método, já foram descobertas várias profecias, tais como o assassinato de Kennedy, o atentado ao World Trade Center, etc. No caso do atentado a Kennedy, apareciam na mesma matriz as palavras Kennedy, Dallas, assassinado.
Um outro investigador aplicou o mesmo método ao livro Moby Dick e conseguiu encontrar também várias profecias, entre as quais a morte da princesa Diana.
Eu não me quis ficar atrás e tentei fazer uma abordagem rudimentar usando este método e olhem as palavras que encontrei no Publico de hoje:
"Um em cada três portugueses sofre de distúrbios mentais";
"Valentim Loureiro reassume presidência de Liga e Metro do Porto"
Dá que pensar não dá?
quarta-feira, abril 20, 2005
quinta-feira, abril 14, 2005
Cargos políticos limitados a 3 mandatos
Nesta lista incluem-se, em boa hora, os cargos dos presidentes do governo regional das Regiões Autónomas.
Contudo, esta lei ainda tem que ser ratificada na Assembleia da República, com uma maioria de 2/3.
Como seria de esperar, o PSD está contra.
O alarve da Madeira está no poder desde 1976, ou seja, há 29 anos!, e mesmo assim parece que não lhe chega. Mesmo que a lei entre em vigor, aquele sr. ainda pode ficar no poder mais 8 anos... mas se calhar é pouco. Há que bater o record de Salazar.
quarta-feira, abril 13, 2005
A foto do ano
O meu amigo Ricardo enviou-me esta foto.
É um simples pardal a curar a ressaca, num chafariz à porta de casa.
Nova cara
É o que se pode fazer, não tenho tempo para mais... tenho que ir tirar a roupa do sabão e migar umas couves para fazer uma sopa.
terça-feira, abril 12, 2005
Portugal perdeu quase metade dos fumadores em 9 anos
É uma boa notícia.
Também acho que passei a pertencer ao grupo dos não fumadores. Digo acho porque não sei se alguma vez pertenci a esse grupo.
Comecei a fumar, talvez, com 16 anos. No Liceu (ou Escola Secundária se quiserem) lembro-me que era a melhor maneira de passar os intervalos de 10 minutos. Era um pretexto para falar com alguma menina a pedir-lhe (ou a dar-lhe) lume. Era a melhor maneira de ter onde pôr as mãos e, enquanto aspirava o fumo, tinha tempo de pensar em algo de supostamente interessante para dizer, sem correr o risco de passar por tótó. Mas mesmo nesta fase, não fumava todos os dias. Até que, alguns minutos antes do exame de Biologia do 12º ano, pedi um cigarro a um colega. Soube-me tão bem que nunca mais esqueci o momento. Era um SG Gigante. Quanto ao exame, acabei meia hora antes do tempo, tive 14 valores e foi a melhor nota da minha Escola.
Entrei na Universidade e aí as coisas complicaram-se. Comprei o meu primeiro maço (é verdade, até então fui sempre um grande crava) e em épocas de exame fumava imenso.
Até que passei para o cachimbo. Era outra história. Havia o ritual da limpeza, o ritual do enchimento, o acender, os aromas fantásticos dos vários "sabores" do Ânfora, enfim, boas desculpas para perder tempo sem dar por isso.
E depois acabaram os exames e veio a vida adulta...
Nos últimos anos fumava cerca de um maço por semana, sendo a maior parte ao fim-de-semana. Será que isto contribui para as estatísticas dos fumadores?
O mais curioso é que, de repente, passei a não ter vontade de fumar.
Não me perguntem qual é a fórmula. Acho que tem a ver com uma predisposição genética para não estar susceptível aos vícios.
Mas, de vez em quando, depois de um bom jantar, com a companhia certa, ainda me sabe bem um bom charuto! (o pior é quando a companhia foge por causa do charuto).
quarta-feira, abril 06, 2005
Ainda o Novo Código da Estrada (2)
O NOME DAS COIMAS no Mar Salgado
Ainda o Novo Código da Estrada
Com o novo Código da Estrada, que aumenta o rigor das normas e agrava consideravelmente as sanções para as infracções, terá sentido manter inalterados os irrealistas limites de velocidade máxima nas auto-estradas (e mesmo fora delas), sabendo-se que os limites excessivamente baixos só vão ser "respeitados" à custa de generosas doses de tolerância da polícia? Não seria mais coerente com a filosofia da reforma subir moderadamente aqueles limites, pelo menos para os automóveis ligeiros, para se poder ser mais exigente no seu cumprimento? Ou vamos continuar agarrados a ficções, por incapacidade para questionar tabus sem fundamento?
A frase da semana
No Expresso de Sábado, Pedro Santana Lopes afirma:
"Um dos grandes equívocos da Constituição ainda lá está: é a dualidade no seio do mesmo poder, o poder executivo, resultante da eleição por sufrágio universal e directo quer do primeiro-ministro quer do Presidente da República."
Onde é que está a barbaridade desta afirmação?
Provavelmente o erro passará despercebido à maior parte dos portugueses, mas, permitam-me a elucidação: em Portugal, o primeiro-ministro é nomeado pelo Presidente da República, tendo em conta os resultados das eleições legislativas que, essas sim, elegem directamento o parlamento por sufrágio universal. E, neste caso, o Parlamento é um órgão de poder legislativo. Nunca, em Portugal, alguém votou para a eleição directa de um primeiro-ministro, apesar de as campanhas eleitorais dos partidos à direita do BE e do PCP, serem centradas nessa ideia.
Não tenho formação jurídica (sou da área das ciências exactas e naturais). Não ocupo, nem ocupei cargos políticos (tirando uma passagem pela Assembleia Municipal da Figueira da Foz). Mas sei estas coisas porque me considero um cidadão minimamente informado.
Como é que é possível que alguém com formação juridica, e longo currículo político, possa publicar tamanha asneira num jornal com a expressão do Expresso?
Só me resta subscrever o que afirma Vital Moreira no Público de terça-feira:
"Perante um texto destes ficamos a perceber não somente que Santana Lopes insiste em não entender por que foi varrido do poder mas também que persiste em confundir totalmente a natureza do sistema de governo constitucionalmente estabelecido entre nós."
terça-feira, abril 05, 2005
O Público em linha passou a ser pago
Estávamos talvez em 1995.
Dez anos depois e essa pedagogia deixou de ser possível. A partir desta semana o acesso aos artigos do Público só é possível mediante pagamento de uma assinatura.
A minha primeira impressão é de pesar. Lamento ter perdido este, como direi, privilégio. Comecei a lamentar desde que o site do Público foi remodelado. Aquilo que parecia um lavar de cara e um ar de contemporaneidade no design, transformou-se, no meu entender, numa má experiência de usabilidade.
A associação da edição eletrónica do jornal ao Sapo também me causou algum desagrado. A marca Sapo está transformada numa máquina de fazer dinheiro. É o corolário do aproveitamento comercial da Internet, com intervenção em todas as áreas possíveis. Aquilo que começou ,também, por ser um serviço pioneiro e inovador vendeu-se e degenerou.
Tenho pena que o Público tenha saído de linha. Poderá ganhar em termos comerciais, acredito. Mas vai perder em protagonismo, em referência, em intervenção, nesta área que, cada vez mais, é a da troca de ideias em rede, transversal a todos os que querem estar vivos dentro desta aventura do conhecimento.
P.S. : Já agora, para quem não sabe, SAPO significa Serviço de Apontadores Portugueses e foi o primeiro motor de busca a funcionar em Portugal, tendo sido desenvolvido por alunos da Universidade de Aveiro, no âmbito do curso de Electrónica e Comunicações desta Universidade.
segunda-feira, abril 04, 2005
Requiem
Deixo aqui este obituário, pelo brilhante Carlos Esperança, no Diário Ateísta
Faleceu, sem deixar descendentes, Karol Vojtyla, Papa católico, emigrante polaco, solteiro, de 84 anos de idade, conhecido pelo pseudónimo de João Paulo II.
Papa há mais de 26 anos, fez a síntese do estalinismo polaco em que viveu com o catolicismo medieval em que acreditava.
Exorcista afamado, preferia a água benta à outra, usava a cruz como amuleto e odiava a contracepção, em geral, e o preservativo em particular.
Fez 448 santos e 1338 beatos e foi um grande criador de cardeais.
A sua morte resolveu o problema da ICAR, multinacional da Fé, cujos estatutos não prevêem a destituição.
As exéquias, abrilhantadas por uma multidão de sotainas, serão transmitidas para todo o Mundo, em directo, a partir do bairro de 44 hectares cujas actividades principais são a oração, os negócios da fé e a política.
De todas as sucursais chegam bandos de monsenhores, bispos e cardeais, estes últimos com direito a voto na escolha do sucessor, pelo círculo eleitoral único «Itália e Resto do Mundo». A reunião do Conselho de Administração, tendo como ponto único da ordem de trabalhos «a eleição do papa», chama-se conclave. A decisão é tomada por dois terços dos cardeais, sob os auspícios do Espírito Santo, sob o olhar atento do Opus Dei.
As exportações de bênçãos, relíquias, imagens do Papa e indulgências ficam suspensas temporariamente. As importações de esmolas mantêm-se.
Post scriptun - As orações pela saúde de JP2 estão completamente ilibadas de lhe terem prolongado a agonia, não tendo revelado eficácia superior ao placebo.
domingo, abril 03, 2005
Estamos papados (eufemisticamente falando)
Por que raio é que todas as televisões têm que estar a fazer ligações em directo ao Vaticano? Para saber a que horas o corpo começou a cheirar mal?
Para entrevitar em exclusivo a Nossa Senhora de Fátima que, diz-se, veio ou vem ou virá buscar o papa?
Para captar um directo da alma do papa a subir aos céus?
Não há paciência para esta televisão. E ainda mais me espanto quando vejo a CNN a enveredar pelo mesmo caminho.
Se querem ver notícias nos próximos dias, só na Al Jaezira.
sexta-feira, abril 01, 2005
Papa em estado crítico
"O padre Konrad Hejmo, responsável pelos peregrinos polacos do Vaticano, tinha afirmado anteriormente que o estado de saúde do Santo Padre tinha estabilizado, depois da aplicação dos medicamentos apropriados para combater a sua infecção urinária."
É a própria estrutura de topo de uma organização baseada em dogmas que, publicamente, mostra que é necessária a intervenção do homem, usando medicamentos que talvez tenham sido obtidos e ensaiados por métodos que contrariam certas doutrinas que esta mesma organização - e este mesmo papa- condenou.
Seria, sim, um acto de coragem afirmar publicamente - Confiamos a saúde do papa nas mãos de deus e rejeitamos qualquer intervenção médica.
quinta-feira, março 31, 2005
quarta-feira, março 30, 2005
O novo código
Ainda não li o documento na totalidade mas pretendo manter-me informado.
Em todo este processo a impressão que fica é que o condutor é um monstro irresponsável e que tem que ser dominado e castigado. Acredito que tal possa ser verdade para uma minoria. Tenho percorrido centenas de milhares de quilómetros, pelas mais diversas estradas deste país e, ao contrário daquela que parece ser a opinão vigente, acho que os condutores portugueses são, na sua maioria, responsáveis.
Excesso de velocidade:
Ninguém cumpre o limite de 120 Km/h nas auto-estradas. Será isto uma tragédia? Não me parece. As auto-estradas portuguesas são as vias mais seguras e com mais baixa sinistralidade no conjunto das vias do país. Por exemplo, este fim-de-semana não houve uma única vítima mortal e houve muito boa gente a circular a mais de 120 (ou de 140). Digo-o com conhecimento de causa pois fiz 400 Km entre Sábado e Domingo, debaixo de chuva.
Acho que era perfeitamente aceitável subir o limite para 140 Km/h nas auto-estradas, com as devidas restrições nos pontos onde tal seja desejável.
Álcool:
Uma estatística absurda legitima a afirmação de que os condutores com taxas entre 0,5 e 0,8 mg/l são responsáveis por 27% dos acidentes. Quem o diz baseia-se no facto de que 27% dos mortos responsáveis por acidentes de viação têm essa taxa de alcolemia. Pergunto eu, qual é a percentagem de mulheres responsáveis por acidentes de viação? Ou a de homossexuais? Seria legítimo extrapolar assim que o facto de ser mulher ou homossexual é um factor de risco?
Não estou com isto a querer legitimar a conjugação do consumo de bebidas alcoólicas e condução. Mas acho exagerado, e carece de fundamentação científica, considerar como muito grave a condução com 0,5 mg/l, e a consequente cassação da carta.
Todas as alterações do código têm consequências nos condutores.
Gostaria de ver uma responsabilização dos responsáveis (passe o pleonasmo) pelo estado e traçado das vias.
Gostaria de ver medidas que, em vez de multar o condutor por se esquecer de colocar o cinto - acto que só o prejudica a ele - obrigar a que todos os veículos vendidos em Portugal sejam obrigatoriamente equipados com todos os sistemas de segurança activa e passiva disponíveis.
Faz sentido que o cinto de segurança seja um opcional, ou apenas disponível no modelo topo de gama?
Esta medida seria facilmente implementada com incentivos fiscais de modo a que, um veículo equipado com todos os sistemas, fosse isentado do pagamento de impostos, na proporção que mantivesse o seu preço actual.
segunda-feira, março 14, 2005
O espírito de corpo da ANF
A primeira é que José Sócrates (JS) soube inteligentemente escolher o primeiro adversário para usar como exemplo. Ao tocar no lobby das farmácias, sabia que iria despoletar uma reacção imediata, pois estes senhores protejem o seu império com um afinco digno de nota. JS tem aqui, para além de uma batalha ganha à partida, assunto para alguns meses, tendo certamente toda a opinião pública do seu lado, bem como a Ordem dos Médicos e outro lobby, o do empresariado das grandes superfícies.
A segunda, mostra o poder (ou a sua busca) que certos sectores têm e a impunidade a que se arvoram. O argumento de que a existência de medicamentos fora das farmácias constitui um grave risco de saúde pública, dando como exemplo o excesso de consumo de antipiréticos (normalmente baseados no paracetamol) e os consequentes perigos, é patético.
A quem é que alguma vez foi recusada uma caixa de aspirinas numa farmácia?
Existirá algum cidadão neste país a quem o farmacêutico tenha aconselhado a visitar o seu médico antes de lhe vender uma caixa de Panadol?
E porque é que as farmácias podem vender artigos de sectores concorrentes tais como sabonetes, pasta de dentes, escovas de dentes, champô, creme para a barba, perfumes, etc, etc? Será preciosa a indicação sábia do farmacêutico sobre como lavar a cabecinha ou aplicar o desodorizante?
E quantos farmacêuticos já se arvoraram em médicos, fazendo as suas próprias "prescrições" sem conhecerem a história clínica dos pacientes?
Será que neste aspecto Portugal é o país mais avançado da Europa pois só aqui é que tenho de ir a uma farmácia para comprar uma aspirina?
sexta-feira, março 11, 2005
Homens: tomem bem conta do vosso esperma...
um homem quis processar a sua ex-amante por ela ter guardado o seu esperma e, depois de terem terminado a relação, ter engravidado e ter tido um filho, que ele se viu obrigado a reconhecer como pai, depois de um processo judicial com testes de ADN inequívocos.
Foi-lhe fixada a prestação de uma pensão de alimentos no valor de 800 dólares mensais.
Mas Jeremy não se ficou: a sua ex-amante Marcelle, ao guardar o esperma depois de um acto de sexo oral, tinha-o enganado e roubado, já que o destinava a um fim não previsível e que lhe causara um enorme trauma ou sofrimento ("distress").
Mas o tribunal de 1.ª instância considerou que Marcelle não tinha cometido qualquer ilícito, até porque considerou que o esperma tinha sido objecto de uma verdadeira doação e, que uma vez doado, Jeremy não podia exigir a sua devolução... E, para além disso, considerou também o tribunal que os alegados "sofrimentos" do Jeremy não eram suficientemente sérios ou graves para merecerem a tutela do direito.
Mas um tribunal de recurso acaba, agora, de vir esclarecer que, embora Jeremy não possa processar Marcelle por abuso de confiança e furto, já que o esperma foi dado, no entanto, pode processá-la: pode pedir-lhe e obter uma indemnização se provar que Marcelle "fraudulentamente se envolveu em actos sexuais que nenhuma pessoa razoável podia esperar que resultassem numa gravidez, com o objectivo de utilizar o esperma do Jeremy de uma maneira não-ortodoxa e inesperada, causando consequências extremas" ao Jeremy.
É assim a tecnologia: grandes vantagens mas grandes riscos...
in Público 11.03.05
quinta-feira, março 10, 2005
quarta-feira, março 09, 2005
Os sábios conselhos das mães
- Porque é que dizes sempre que o leite está com mau gosto? - mãe de Pasteur
- Pára de gritar o dia todo. - mãe de Luciano Pavarotti
- Pára de brincar com essas máquinas ou nunca deixarás de ser pobre.- mãe de Bill Gates
- É a última vez que rabiscas o tecto da sala. - mãe de Miguel Angelo
- Como é que três quartos de hora são relativos? Se chegas tarde à escola, vais ter falta. - mãe de Einstein
- Pára de bater na mesa. Já estou farta desses ruídos. - mãe de Samuel Morse
- Fica quieto de uma vez! Daqui a pouco, também vais querer dançar nas paredes. - mãe de Fred Astaire
- Nada de igualdades. Eu sou tua mãe e tu és meu filho. - mãe de Karl Marx
- Deixa lá os soldadinhos de chumbo e vai estudar francês. - mãe de Napoleão Bonaparte
- E tu pensas que como operário, alguma vez chegas a presidente? - mãe de Lula da Silva
- Pára de mentir e de andar com putas ou nunca serás ninguém na vida... - mãe de Santana Lopes
segunda-feira, março 07, 2005
Afinal temos Ministério do Ambiente
Diz-se que o ministro é competente. Não vou duvidar. Mas terá a força política para enfrentar os piores "lobbys" como o da água e o da construção civil aliada às autarquias?
Esperemos que sim para bem deste país.
Depois temos o problema da co-incineração.
Em minha opinião acho que, por um lado, é urgente estimular e incentivar a reciclagem a todos os níveis - doméstico e industrial.
Por outro lado, há um problema concreto que obriga a uma solução no curto prazo. E a co-incineração feita em determinadas condições pode ser uma solução.
A garotice
Esta idei de enviar a foto de Freitas para o PS só me faz lembrar as birras de namoro de adolescentes.
Já agora enviem a de Manuel Monteiro para o PND e a de Lucas Pires para o PSD.
sexta-feira, março 04, 2005
Governo anunciado
É impressão minha ou não há Ministério do Ambiente? Mau princípio.
terça-feira, março 01, 2005
A ler
Como se já não bastasse a fístula do gato, os guinchos do autoclismo, o arrefecimento global e os acidentes na estrada, certo livro que por aí anda não faz nada bem ao colectivo. Temos a sombra branca, o corpo aberto, a inveja e o medo alojados no código genético, o terror a tolher-nos a vesícula, a amnésia, a gripe espanhola, o fantasma da ópera, os salários em atraso, o défice da Segurança Social, o deixa-andar, os mortos esquecidos, o fogo de Santo Antão, a escrófula no pescoço, e o mais que cabe numa mão-cheia de páginas inteirinhas a zurzir a alma pátria perdida algures entre a Cava do Viriato, o Portugal dos Pequenitos, a janela do Convento de Cristo, o cabo de Sagres e as caixas do Multibanco.
Eu, paralisado, embrulhado na consciência de mim feita em gravetos à procura dos traumas primordiais alojados nas mais finas raízes de uma floresta genealógica esquecida. Afonso Henriques não sai da porta da Casa Branca exigindo ser recebido pelo Bush para lhe dizer que os árabes estão em Lisboa e que precisa de reforço militar para libertar a cidade do eixo do mal; Egas Moniz vagueia com a corda ao pescoço na Avenida Castelhana, insistindo que tem de falar com o rei e já não têm conta os internamentos por suspeita de suicídio e ameaça à integridade de Suas Altezas os Reis de Espanha; Diniz não larga os serviços de protecção civil e o corpo de bombeiros, exigindo um plano contra os incêndios para o pinhal de Leiria; Inês morta e depois louca perde-se nas burocracias dos tribunais clamando por Pedro, pela guarda de seus filhos e por vítima de violência doméstica e assassinato; Afonso Domingues recusa-se a sair da sala do capítulo de Santa Maria da Vitória, explicando aos turistas que aquela abóbada nunca cairá e insiste que todos joguem à macaca e batam com os pés no chão para provar que assim é; Luís Vaz sentou-se no colo de Pessoa a beber cafés, a dizer mal da "Mensagem", dos heterónimos, dos heteróclitos, do Saramago, do Lobo Antunes, assediando adolescentes para uns bacanais na Ilha dos Amores; Sebastião vive errante no aeroporto de Casablanca bramindo uma espada partida, teimando que precisa de um passaporte, de um avião e de nevoeiro para regressar e que não quer saber das leis da emigração e do que diz o pessoal da torre de controlo, explicando-lhe que com nevoeiro cerrado os aviões não descolam e que nem sonhe trazer cavalos brancos para a gare das partidas; Pombal, a dormir em cartões na Rotunda do Marquês, ameaça as pessoas com um terramoto que está iminente e obriga-as a assinar uma lista de apoiantes à sua candidatura à Câmara de Lisboa sob pena de serem todos degolados como os Távora; Amélia não quer saber do acidente de Camarate, exigindo a reabertura do processo da rede bombista e o total esclarecimento das condições que levaram ao assassinato d"el rei seu esposo e do JFK; Salazar arruma carros na Avenida da Boavista e quer que lhe paguem em barras de ouro para aumentar os cofres do tesouro, vociferando contra a fuga ao pagamento da licença de porte de isqueiro, contra o Humberto Delgado, contra o Bloco de Esquerda e que manda toda a gente para o Tarrafal e que os polícias são uns tansos; Amália canta, Lúcia morreu e o Eusébio ameaça ir para o Chelsea.
A minha Maria Augusta fechou-se no sótão por causa desses fólios e jura que nunca mais de lá sai nem que tenha que comer ratos e listas telefónicas velhas e fuma obsessivamente rolos de cotão embrulhados em teias de aranha até que lhe chocalhe o cérebro mirrado sempre que move e nega a evidência em que muda se quedou fechada em si. Cai-lhe o cabelo para dentro da cabeça e com isto se entrelaçam, como no ralo da banheira, meadas enguiçadas em novelos que se enredam nas pregas azougadas dos hemisférios ressequidos.Maria Augusta, tens que sair daí para ir votar! E ela, nada. Maria Augusta anda para a sala ver os debates na televisão! E ela, nada. Maria Augusta anda ver o meu país de marinheiros! E ela, nada. Maria Augusta, eu quero amar, amar, perdidamente! E ela, nada. Maria Augusta, o telemóvel está tocar! E ela, nada. Maria Augusta, anda ver os Morangos com Açúcar. E ela, nada. Maria Augusta, olha o nevoeiro branco! Pé ante pé, como que tomando por epifania cada degrau do sótão, Maria Augusta desce finalmente a escada. Onde? Ali na parede a esguichar do extintor! É neve carbónica, m"ôr, não vês que é neve carbónica? Hã, então é isso e eu que me julgava perdida. Neve carbónica, m"ôr, tanta retórica por causa de um extintor. São Lourenço permita que nunca mais ninguém me ponha a assar a mioleira.
E assim termina a história. O Gil foi ao São Bartolomeu do Mar oferecer uma galinha preta e uma cabecinha de cera e ficou curado. A Maria Augusta e eu habitamos outra vez o mesmo lugar. O gato curou-se da fístula e a andorinha de louça que estava na parede deixou finalmente de tomar os ansiolíticos para o impensável genealógico que lhe tolhia os movimentos.
in Público 1-03-2005, Por Álvaro Domingues
sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Confissões de um assassino económico
Porque reza esta senhora?
Na sequência do internamento do papa, são-nos mostradas cenas de crentes em compenetradas rezas.
É algo que sempre me intrigou. Porque razão rezam essas pessoas?
1ª hipótese: rezam a pedir as melhoras do papa.
Sendo o papa o representante de deus na terra, não compreendo porque terá que ser o pessoal subalterno a estabelecer as comunicações com o divino.
Em qualquer sociedade, o chefe das forças armadas não delega num soldado, nem num sargento, as comunicações sobre a sua situação com o presidente da república. Se o PR o decide chamar, para o promover ou admoestar, lá terá as suas razões, sendo inútil a utilização de quaisquer outras vias que não as oficiais.
Não me parece muito plausível um diálogo deste género:
- "Ó shor presidente, deixe lá o nosso general ficar mais um anito no cargo." - diz o ajudante de cozinha.
- "Está bem, já que tanto insiste, vou seguir o seu conselho." - responde o presidente.
Se deus já decidiu chamar o papa à sua divina presença, acho de uma enorme falta de educação as tentativas que estão a ser feitas para o contrariar.
2ª hipótese: rezam para que o papa, ao morrer, vá para o céu.
Neste caso também não vejo a utilidade das rezas.
Tendo o papa sido um leal funcionário, nada tem a temer.
No fundo trata-se até de uma promoção, passando de chefe de delegação para um qualquer lugar de prestígio na sede principal da empresa.
Se deus achar que não merece tamanha distinção, então lá terá as suas razões e não são os comuns mortais, com os seus insistentes pedidos, que o irão fazer mudar de ideias.
A não ser que se trate de um deus tipo Santana Lopes.... ai que já falei dele outra vez ... que chatisse.
Sem comentários
Numa declaração à saída do almoço de trabalho com Jorge Sampaio, Santana Lopes reconheceu que o "Presidente leu bem a situação" política nacional recente, que levou à demissão do seu Governo."Em democracia, não quer dizer que quem ganha tenha a razão absoluta, mas tem certamente mais razão do que quem perde", sublinhou o também presidente do PSD, que já anunciou que não se vai recandidatar ao cargo.
"O povo deu razão [ao Presidente] ao escolher outra maioria, apesar de o que esteve em jogo não foi essa decisão", referiu Pedro Santana Lopes, numa curta declaração feita no Palácio de Belém.
In Público 25.02.2005
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
Astronomia
Mas eu sou apenas um cometa
Que se precipita explendoroso
Em compulsivas órbitas masoquistas e ousadas
E a cada passagem inevitavelmente consumido
Até já nada mais restar
Do que uma brilhante recordação
Em luz de poeiras sublimadas
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
Avião vai libertar compostos químicos na atmosfera para fazer chover
Eu acho que alguém devia mandar uma mensagem a NSF (N. Srª de Fátima) e companhia a considerar sem efeito as orações entretanto feitas que é para depois não virem recolher os louros daquilo que os outros fizeram.
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
Parabens à Portugal
Apesar de Fátima, do Big Brother e telejornais da TVI, dos casos e fanatismos do futebol, parece que Portugal ainda tem cidadãos que o querem continuar a ser de pleno direito.
Independentemente dos resultados eleitorais - que me deixam muito satisfeito - os portugueses deram uma lição de cidadania a si próprios.
Parabens portanto a Portugal. Esperemos que esta não seja uma manifestação efémera.
Pedro Santana Lopes - o psicopata
Porque é que não estou surpreendido?
PSL é um caso de estudo. Quem sabe um pouco de psicologia facilmente identifica no seu comportamento vários traços de psicopatia:
- Alguém que não aprende com os seus erros;
- Alguém que não assume as consequências dos seus actos;
- Alguém que, mesmo sabendo que o que faz lhe trará consequências nefastas, não hesita em errar novamente e segue em frente;
- Alguém que coloca nos outros a responsabilidade pelas suas falhas.
Esta será, provavelmente a última vez que falarei de PSL. O assunto já me causa um certo desconforto. De cada vez que penso que o meu país esteve à mercê de uma pessoa de uma baixeza de carácter tão grande, e saber que usou a minha querida Figueira para o fazer, deixa-me bastante incomodado. A sua tentativa de desculpabilização, própria de um garoto, aliada à falta de honra que demonstrou, são o remate final desta farsa de mau gosto.
Agora resta esperar que o mau cheiro passe e que o PSD saiba lexiviar eficazmente a purulência que o invadiu.
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
A bela natureza das coisas
terça-feira, fevereiro 15, 2005
O dabate a 4 (II)
Comunicado da Associação República e Laicicidade sobre o luto nacional
2. O falecimento de personalidades que tenham servido a República em cargos elevados, ou que tenham prestado serviços públicos de grande mérito, pode e deve ser assinalado com um dia de luto nacional. Nesse sentido, estranhamos que não tenha sido decretada tal solenidade aquando dos falecimentos - ocorridos durante o mandato do actual Governo - da antiga Primeira Ministra Maria de Lurdes Pintasilgo ou do lutador antifascista Fernando Vale.
(ou de Sophia Mello Breyner Andresen acrescento eu)
3. Lúcia de Jesus teve como único acto relevante da sua vida o papel que desempenhou nos acontecimentos de Fátima em 1917, que a tornaram mais tarde uma actora comprometida das encenações político-religiosas conducentes a legitimar o Estado Novo (deve-se-lhe a frase «Salazar é a pessoa por Ele escolhida para continuar a governar a nossa Pátria»), e foi portanto parte de uma operação político-religiosa que fracturou e ainda divide o país e a própria comunidade católica portuguesa.
4. Parece-nos portanto evidente que o luto nacional é, nesta ocasião, desapropriado e mesmo prejudicial à separação da política e da religião e à própria unidade nacional em torno dos valores democráticos.
Luis Mateus(Presidente da Direcção)
Ricardo Gaio Alves(Secretário da Direcção)
15-02-2005
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Acabou o sofrimento de Lúcia de Jesus
Portugal está subtilmente a ser levado ao colo em direcção a novos obscurantismos. Repare-se nas coincidências:
- Papa muito doente;
- Papa fica melhor;
- Papa envia uma comunicação a Lúcia, certamente a agradecer a cunha colocada a N.Sra. de Fátima para as suas melhoras;
- Lúcia morre de seguida carregada de bençãos e coloca-se a jeito para uma beatificação;
- Entretanto Cardeal Patriarca de Lisboa posiciona-se como um dos Papáveis (no sentido de poder vir a ser Papa, ó mentes preversas!);
- Paulo Portas suspende campanha - também a pôr-se a jeito para um milagrezito nas eleições;
- Santana, claro está, copia o aliado/não aliado e, para além de suspender a campanha, decreta um dia de luto nacional;
- O PS junta-se à hipocrisia e anuncia suspensão de algumas actividades.
E lá vamos nós cantando e rindo, tomados por tolos, a reboque do misticismo medieval e do obscurantismo secular.
Este país nunca mais acorda.
sábado, fevereiro 12, 2005
Um longo domingo de noivado
Acabei de ver o filme e apenas me surge um adjectivo: sublime.
Jean Pierre Jeunet volta a demonstrar o seu enorme talento.
Não sou crítico de cinema e, como tal, não posso elaborar sobre todos os aspectos subjacentes a filmografias semelhantes, nem me considero suficientemente conhecedor da matéria para emitir opinião autorizada. Contudo acho que o cinema é isto. Uma história que se constrói em torno de uma emoção profunda. Sair de uma sala de cinema e querer fechar os olhos porque a emoção que fica é demasiado forte para querer ver algo mais durante os próximos tempos.
A língua portuguesa tem uma palavra supostamente sem tradução noutras línguas - fado. A língua francesa tem uma palavra semelhante - chagrin. E este filme é sobre um Chagrin e explicar o que isto significa é como tentar explicar o que é o fado a um inglês. É preciso ver o filme.
Jeunet constrói uma envolvência extraordinária, misturando a tragédia da guerra com a beleza de uma primavera bucólica da França dos anos 20. Junta a dor com subtis rasgos de um humor muito particular a que já nos tinha habituado no "Fabuloso destino de Amelie". Os detalhes são extraordinários, quer ao nível do guarda roupa, quer ao nível dos pequenos pormenores dos utensílios domésticos ou das diversas habitações. Que dizer da gare de Austerlitz filmada como se a equipa de filmagens lé tivesse estado em 1920, a cidade de Paris com o seu trânsito, o mercado... os planos do farol, enormes. Os actores, excelentes - Audrey Tautou, deliciosa.
E o mar, subtilmente presente, imenso receptor discreto de lágrimas e esperanças... como isto me é familiar.
quarta-feira, fevereiro 09, 2005
Crisis? What crisis?
"Os lucros do BPI aumentaram 17,6 por cento em 2004, ascendendo a 192,7 milhões de euros, muito acima do estimado pelos analistas financeiros." ("Expresso", 29-1-05)
"Os lucros conjuntos das três companhias de seguros do grupo Espírito Santo Finantial Group atingiram no ano passado os 49,5 milhões de euros." (PÚBLICO, 1-2-05)
"O resultado líquido do BCP subiu 17,2 por cento para 513 milhões de euros em 2004 face a 2003, acima do previsto pelos analistas, que apontavam para um valor entre os 476 e os 507 milhões de euros." (PÚBLICO, 26-1-05)
"O Banco Nacional Ultramarino encerrou 2004 com lucros de 8 milhões de euros, o que representa um aumento de 40,1 por cento." ("Expresso", 29-1-05)
"O lucro do BES aumentou 11,5 por cento para 275,1 milhões de euros em 2004, um crescimento acima das estimativas dos analistas (...). Os analistas previam um lucro líquido entre os 221 e os 270 milhões de euros." (PÚBLICO, 4-2-05)
"O Banco Nacional de Crédito (BNC) teve, no ano passado, um lucro líquido de 33,7 milhões de euros." (PÚBLICO, 28-1-05)
"A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa obteve receitas de 1014 milhões de euros em 2004, mais 24,7 por cento do que os 813 milhões arrecadados no ano anterior. Este resultado, apresentado como sendo um 'montante recorde' na história da instituição, teve como principal contribuinte o Euromilhões (...) Entre os vários países que aderiram a este jogo, Portugal está nos três primeiros, em termos de valor absoluto de apostas, e é o primeiro em valor 'per capita'." ("Diário Económico", 27-1-05)
"Portugal mantém a mais baixa taxa de produtividade do trabalho de toda a União Europeia (UE) e a mais alta taxa de abandono escolar, um dos piores níveis de qualificação profissional e um dos mais elevados riscos de pobreza e de exclusão social. Este quadro negro é traçado numa bateria de relatórios sobre a situação económica, do emprego e da protecção social dos Vinte e Cinco ontem publicados pela Comissão Europeia (...). O abandono escolar continua a atingir 40,4 por cento dos estudantes do ensino secundário, contra 15,9 por cento no conjunto da UE, e quase 40 por cento dos universitários. Só Malta apresenta piores resultados. (...) Bruxelas assinala igualmente uma 'tendência preocupante' para o aumento do desemprego dos mais velhos, o que agrava os riscos de pobreza." (PÚBLICO, 28-1-05)
Público, 8-2-05 Joaquim Fidalgo
A frase que diz tudo
in Público 9-02-05 - Fátima Bonifácio
quarta-feira, janeiro 19, 2005
Com 20 anos de atraso
Desde cedo os cientistas aconselharam o uso do preservativo como medida preventiva.
Desde cedo a igreja católica o condenou. Nada que surpreenda, vindo de uma instituição obscurantisca e virada para os seus dogmas.
Ontem, surpreendentemente, a conferência episcopal espanhola declarou-se a favor do uso de preservativos como meio de protecção contra a sida.
E no resto do mundo?
E em África, onde uma grande percentagem da população é portadora da doença?
Talvez daqui a outros 20 anos mudem de posição, quando o número de créus se encontrar a níveis perigosamente baixos...
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Pois é! (como diria Manuela Moura Guedes), a abertura durou apenas um dia.
Um novo comunicado da Conferência Episcopal Espanhola volta a colocar a doutrina da igreja (qual?) no seu devido lugar bafiento.
"(...) De acuerdo con estos principios no es posible aconsejar el uso del preservativo, por ser contrario a la moral de la persona. Lo único verdaderamente aconsejable es el ejercicio responsable de la sexualidad, acorde con la norma moral. En conclusión, a diferencia de lo afirmado desde diversas instancias, no es cierto que haya cambiado la doctrina de la Iglesia sobre el preservativo.(...)"
terça-feira, janeiro 18, 2005
O homem consistente
Já vimos no caso do Iraque as qualidades da diplomacia Americana, bem como as dos serviços secretos, ao encontrar provas irrefutáveis da existência de armas de destruição maciça no Iraque.
Bush continua igual a si próprio e pelo menos tem um mérito - é consistente com os seus princípios - A guerra é o seu objectivo.
Como será possível estar bem com a sua consciência sabendo que por sua causa já morreram centenas de milhares de seres humanos?
O Irão está lentamente a caminhar para uma sociedade mais aberta, desenvolvida e democrática. Percorreu um longo caminho e tem estado em paz. Os reformistas (ou progressistas) têm estado, pacificamente, a ganhar uma posição na sociedade iraniana, após décadas de obscurantismo xiita. Mas isto não satisfaz o sr. Bush. É necessário destruir outro país, matar milhares de inocentes e deitar por terra todo um conjunto de progressos que demoraram gerações a conseguir.
Ao fundamentalismo de Bush respoderão todos os outros fundamentalismos. E nós, aqui ao lado, pagaremos o preço.
O homem que diz adeus
Para quem não o conhece, é imperativo passar no Saldanha por volta das 23h e disfrutar de um momento que já faz parte da "nossa" cidade! Como é possivel um simples gesto proporcionar um momento, apesar de um pouco "estranho", agradável para quem passa... Afinal se não fossem estas "pequenas" diferenças, a vida seria sempre igual...O homem que diz adeus. É ele o homem que noite após noite acena aos carros que passam na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. É por ele que tocam as buzinas, que se atiram beijos e sorrisos, que se gritam «boas noites!» e «adeus!», numa «onda de comunicação» que já dura há três anos e que nem sequer ele sabe explicar muito bem como começou.
Numa cidade de estranhos em mundos fechados, este é o seu «milagre». E é também o seu remédio. Há quem lhe chame o «senhor do adeus». Mas «senhor» é coisa que detesta que lhe chamem.Aos 72 anos, João Paulo Serra tem a inocência de uma criança, o espírito de um jovem, mas o olhar nostálgico de um ancião que sente «ter aprendido com a vida tarde de mais». A sua roupa clássica e a ondulação do cabelo grisalho disfarçada com gel, dão-lhe um ar meio aristocrático, que já faz parte da paisagem do Saldanha. Todos o conhecem e quem trabalha nas redondezas sabe o seu percurso de cor.
«Chega por volta das onze, meia-noite... Começa pela zona do Monumental, vai descendo a rua até ao Marquês e depois sobe, parando sempre em pontos estratégicos. Nunca falha.» Arménio é chefe de mesa na marisqueira Maracanã e já lhe serviu alguns jantares. «É muito simpático. Quando passa aqui, acenamos-lhe pela janela. Só não sei: por que é que faz isto?»João começa por dizer que não sabe bem, mas, a pouco e pouco, interrompendo sempre para acenar, vai desvendando o mistério.
Tudo começou há três anos e meio, depois da morte da mãe, com quem vivia. Precisava de se distrair, incomodava-o a ideia de estar sozinho em casa. Um dia, aconteceu. Já reparara que as pessoas o cumprimentavam sem razão, nos centros comerciais e, sem saber como nem porquê, surgiu o primeiro aceno na estrada. Depois veio outro e outro, e o acaso virou fenómeno.
«No início era só rapaziada nova, mas depois contagiei todo o tipo de gente», explica sem esconder um certo orgulho.
Graças ao seu «milagre», já deu entrevistas para a televisão e para os jornais, apareceu em dois filmes e até num teledisco. «Sempre quis ser actor, mas nunca me deixaram...». Ou nunca teve coragem de tentar.Algumas dezenas de acenos mais tarde, já não é um João risonho e despreocupado, «com imensos amigos» com quem vai «ao teatro e ao cinema», que fala por detrás dos óculos de massa negra. Nos olhos cinzentos, estão duas lágrimas contidas. Pelo passado, pelo presente e por um futuro que não chega.
Com um raciocínio de fazer inveja aos mais novos, o louco, o excêntrico, transforma-se lentamente num avô contador de histórias, que lê Agatha Christie para combater o medo ao andar de avião, que não tem telemóvel porque detesta máquinas e que não vê televisão.João nasceu no seio de uma família muito rica. Até aos dez anos, viveu num enorme palacete da Tomás Ribeiro, cobiçado mesmo pelo próprio Gulbenkian. «Que saudades tenho desse tempo... A casa estava sempre cheia de família e amigos...».
Mimado desde bebé, fez a instrução primária toda em casa, com um professor particular, pois no primeiro dia de aulas no Colégio Parisiense chorou tanto, que os pais não tiveram coragem de o mandar de volta. «Fui criado numa redoma de vidro», confessa, explicando:«Naquela época era tudo muito diferente, havia muitos tabus.» Depois do divórcio dos seus progenitores, quando tinha 13 anos, João foi morar para o Restelo com o pai. Por ele, inscreveu-se em Direito, mas depressa desistiu, «era muito chato». Depois de uma igualmente curta passagem pelo curso de Histórico-Filosóficas, o pai, «que não sabia o que fazer» com ele, mandou-o para Londres, com o irmão.
«Foram três anos fantásticos. Tinha um grupo de amigos fabuloso, com quem viajei imenso.
Teria lá ficado, se não fosse tão agarrado à família...» Sem quase pôr os pés nas aulas, regressou a Portugal e, depois da morte do pai, pouco tempo depois, foi morar com a mãe, de quem não se separou até ao último dia da sua vida. «Viajámos muito os dois. Todos os anos íamos a Paris e Madrid. Conheço a Europa inteira, excepto a Grécia...» E o olhar perde-se num momento só dele, como se pensasse alto. Quando a mãe morreu, «ficou desasado». E talvez por isso esteja todas as noites a «comunicar».
Admite que o que faz «não é muito normal», mas não passa sem isso. É o remédio que lhe permite disfarçar a solidão que o consome e o faz olhar para o passado com arrependimento, por não ter ousado viver a sua vida em vez da dos outros.«Às vezes penso que foi tudo inútil...»
No baú dos sonhos perdidos, jaz o curso que não tirou, o trabalho que nunca fez, os filhos que não teve e, pior, o grande amor que nunca conheceu. «Sinto-me só. Incompleto. Como se algo estivesse a falhar.»
E assim lacrimeja quando vê um casal idoso de mãos dadas, ou quando dois rapazes, que diz «reconhecer do subconsciente», param o jipe para tirar uma fotografia com ele. «Encontramo-nos no céu», repete, aludindo ao que um diplomata ucraniano lhe disse uma vez.
O homem do lixo atira-lhe o derradeiro aceno da noite...
Sofia Jesus in Diário de Noticias (23-03-2004)
Vale do Galante - continua tudo em aberto
Quando, por decisão do Presidente da República, o executivo de Santana Lopes passou a governo de gestão, algumas vozes, como as do deputado socialista Vítor Cunha e Trillo y Blanco, advogado do Movimento de Defesa do Desenvolvimento Sustentável do Vale do Galante, vieram a público defender que o Plano de Pormenor do Vale do Galante não poderia ser aprovado, o que faria recuar todo o processo. Convicções posteriormente contrariadas pelo presidente da Câmara da Figueira da Foz, Duarte Silva.
Ontem, o ministro Nobre Guedes provou que o Governo a que pertence pode aprovar um plano de pormenor, exemplificando com outro, referente a Miranda do Corvo, que deverá ser ratificado, em Conselho de Ministros, nesta ou na próxima semana. Quanto ao caso concreto do Vale do Galante, o governante não dispunha ainda de dados concretos, mas prometeu, nos próximos dias, dar conhecimento do andamento do processo.(...)"
in Público 18-01-2005
quinta-feira, janeiro 13, 2005
Nova palavra no dicionário de Língua Portuguesa
Forma de agir inopinada e irresponsável que prejudica toda a gente envolvida directa ou indirectamente na acção, sem que o autor tenha uma consciência absoluta dos consequências dessa acção - "fez-lhe uma santanice", " acabou por se santanizar", "se disse isso vai ser santanizado", estupidez, parvoíce, inexperiência, irresponsabilidade de grande dimensão, efeito negativo de algo dito ou feito por um inconsciente com poder para o fazer.
quarta-feira, janeiro 12, 2005
Efeito da Gravidade por Álvaro Domingues
Aqui fica mais um seu texto fantástico a raiar o surrealismo nacional.
"Ia a incubadora aos pontapés e à estalada a caminho da reciclagem mecânica e orgânica, quando apareceu a ambulância a alta velocidade debaixo de um intenso tiroteio, assim como nos filmes com "snipers" em cima das árvores e espichados das janelas e bombas de fragmentação a cair, a cair. É verdadeiramente problemático o estado a que chegou o Serviço Nacional de Saúde.
A criança que estava na berma suspendeu a limpeza do ranho que guardava num saco de plástico candidato a um Guiness pelo maior saco plástico cheio de ranhos de uma criança só, que depois seria pendurado na maior árvore de Natal, por sua vez levada para o maior desfile de Pais Natal ou Pais Natais. Como disse? Não interessa agora.
O inocente ranhoso morreu instantaneamente atingido de viés por uma placa da prevenção rodoviária que a ambulância arrastava na vertigem da sua cavalgada de sirenes e relâmpagos azuis, ti nó ni. Paz na estrada, já que noutros locais é ainda mais difícil.
O anjo da guarda preencheu o relatório do acidente e aplicou a respectiva coima. Tudo se passou muito rapidamente. O menino deu a mão ao anjo e descolaram na vertical 3, 2, 1, 0 pelos ares, com um só estremecimento de asa.
O planeta azul só começa a ser interessante quando já não se sente o efeito da gravidade, pensava a alma do infante.
Na berma oposta, um homem de gravata vistosa oferecia um alvo pintado nas costas a uns atiradores de facas. Se fosse um anjo não era grave, porque os anjos não têm costas, como se sabe. O espectáculo era enfadonho.
Pior, só duas semanas seguidas com imagens de devastação, dor, miséria, morte e turistas no Sudeste asiático. Sim, claro, agora já não vou ter todas as condições de férias que iria ter se por acaso não tivesse acontecido nada disto. Por outro lado, estou contente, porque vejo as coisas mais ao natural, como elas são, dizia a tonta para a TV.
Qual é a diferença entre um morto e um desaparecido? Um desaparecido morto é a mesma coisa que um morto desaparecido? Quanto valem quatro desaparecidos em cento e cinquenta mil mortos?
Estranho mundo. A cara do homem de pau apagou-se dos cartazes por causa da carreira académica. Os desígnios dos deuses poderão ser insondáveis, mas a carreira académica tem também grandes mistérios e poderosas razões.
A potência do rio varreu o segundo homem da fila dos pescadores à linha. Onde vai o rio buscar tanta força se é tão escasso o que brota da nascente e vai o tempo tão falho de aguaceiros? Não se sabe.
Pôncio Pilatos despejou a bílis e lavou as mãos no cenário doméstico, em directo, a cores e ao vivo. Contrariando a história, Marco António ainda é capaz de trair César nas escadarias do Senado. Se a relva é fresca enquanto houver quem regue, por que é que não se vende a terra do jardim para acabar de vez com o défice? Como disse? Disse défice, não é patriótico mas dá que pensar.
Quantas vezes mais irá o outro aos estaleiros de Viana do Castelo mostrar o guarda-roupa? Maldito aquele que puser a minha cara no reclame do Skip com "baking soda", porque todo o discernimento lhe será retirado e se cobrirá de chagas e hérnias discais. Ai a vida está cara! Vamos para S. Tomé a ver se é verdade.
Faz-te leve, Maria Augusta, que tudo isto é nada. Por mais que uma vez já do céu choveram sapos. Já um raio atravessou uma cidade inteira e nem uma lâmpada se fundiu. Já morreram tantos, outros esfolados vivos, outros queimados, outros lançados às feras, outros esmagados em lagares de pedra. Já passaram milhões de anos e ainda há pegadas de dinossauros. Há exércitos de ratazanas ocultas nas ruínas. Há milhões de lesmas, de gatos enfezados. Há homens que não falam. Há mulheres prenhes que se recusam a parir. Há olhos que não dormem. Há ouvidos a estalar com os silêncios que habitam as abóbadas das catedrais vazias.
Contudo, floriu ontem o ramo de uma cerejeira e Janeiro vai a meio. Um único gomo, túrgido, urgente de vida, e nem sequer ainda a última folha se desprendera daquela árvore. Fracos presságios, me disse quem sabe que nem só as pessoas enlouquecem. Entre, pois, a música.
Primeiro, em pianíssimo, uma prece de violinos que se vai erguendo em registo sobreagudo até as cordas rebentarem. Pausa para mudar as cordas de sítio e afinar de novo.
Segundo andamento. Recomeçar. O naipe das tubas alinha-se à frente do palco, arranca os pistões e enfia os instrumentos pela cabeça. Entrada dos contrabaixos em uníssono. No fosso da orquestra, procede-se à matança dos porcos. Visivelmente emocionado, o maestro dá um sinal discreto ao coro e às flautas transversais. O coro retira-se em sinal de protesto. As flautas transversais arremetem de frente e em contra tempo. Em desespero, entra o naipe da percussão "ad libitum" e em fortíssimo. Assustados, os porcos galgam o fosso com as facas ainda espetadas e espatifam tudo o que encontram. Cai o pano e ouvem-se os aplausos gravados de uma plateia que fugira em pânico. Os porcos agradecem, limpam as facas aos cortinados, comem os açafates de pepinos que a produção ofereceu e retiram-se para os camarins. Fim da primeira parte. Só muito dificilmente haverá segunda.
Bravo! Apagadas as luzes, é mais clara a respiração da noite."
terça-feira, janeiro 11, 2005
Um epigrama excelente de Carlos Esperança (Diário Ateísta)
Virgem Maria, farta das companhias e do Céu, onde subiu em corpo e alma, aborrecida do silêncio e da disciplina, cansada de quase vinte séculos de ociosidade e virtude, esgueira-se às vezes pela porta das traseiras e desce à Terra.
Traz a ladainha do costume, a promoção do terço de que é mensageira e ameaças aos inocentes. Poisa em árvores de pequeno porte, sobe aos montes de altitude moderada e atreve-se em grutas, pouco recomendáveis para a virgindade e o reumatismo, sempre com o objectivo de promover a fé e os bons costumes, de abominar o comunismo e anatematizar os pecados do mundo.
A receita é sempre a mesma: rezar, rezar muito, rezar sempre, que, enquanto se reza não se peca. Não ajuda a humanidade mas beneficia o destino da alma e faz a profilaxia das perpétuas penas que aos infiéis estão reservadas no Inferno.
Surpreende que, sendo tão vasto o mundo, a Virgem Maria só conheça os caminhos dos seus devotos e abandone os que adoram um Deus errado e odeiam o seu divino filho que veio ao mundo para salvar toda a gente. Fica-se pela Europa, em zonas não contaminadas pela Reforma, aventura-se na América Latina, eventualmente visita a África e nunca mais voltou a Nazaré e àqueles sítios onde suportou os maus humores do seu divino filho e as desconfianças do marido.
Ficando-lhe as viagens de graça, por não precisar de combustível, não se percebe que não volte aos sítios da infância, não vá em peregrinação ao Gólgota, não deambule pela Palestina e advirta aqueles chalados de que o bruto e ignorante Maomé é uma desgraça que se espalhou pela zona como outrora a peste, que a única e clara verdade é o mistério da Santíssima Trindade.
Por ter hora marcada ou para não se deixar seduzir pelas tentações do mundo, a virgem Maria regressa ao Céu, depois de exibir uns truques e arengar uns conselhos, sem dar tempo a que alguém de são juízo a interrogue, lhe pergunte pela saúde do marido e do menino e lhe mande beijos para os anjos e abraços aos bem-aventurados que estão no céu.
Um dia a Virgem Maria, com mais tempo e autonomia de voo, encontra um ateu e fica à conversa. Há-de arrepender-se dos sustos que prega, das mentiras que divulga e chegar à conclusão de que o terço faz mal às pessoas, estimula o ódio às outras religiões e agrava as tendinites aos fregueses.
in Diario Ateista
terça-feira, janeiro 04, 2005
O grande quarteirizador contra-ataca
Nas declarações de dia 28, o advogado afirmou que o tribunal tinha considerado "ilegal" o licenciamento da urbanização em resposta a uma providência cautelar (interposta pelos cidadãos) cujo "objectivo muito específico era contestar o licenciamento que foi emitido pela câmara".
No documento ontem emitido, o presidente refere que, ao contrário do requerido pelo movimento de cidadãos, o Tribunal Administrativo de Coimbra "indeferiu, não concedeu, a providência cautelar da suspensão de eficácia da licença e alvará emitido por esta câmara". Segundo a autarquia, o tribunal entendeu "que as obras em apreço estavam legais e validamente licenciadas". "Apenas foi ordenada judicialmente a suspensão de obras que o proprietário havia iniciado numa pequena parte dos terrenos incluídos no projecto do Vale do Galante, sem dispor para o efeito da indispensável licença camarária", esclarece ainda o documento.
Contactado pela agência Lusa, o autarca da Figueira da Foz acusa o advogado de "mentir em público, pondo em causa um tribunal".
Duarte Silva revelou ainda que a autarquia vai apresentar uma queixa à Ordem dos Advogados (OA) contra o causídico.
Hoje, Duarte Silva prestará mais esclarecimentos numa reunião de câmara agendada para as 10:00 h da manhã. Tenho pena de não poder presenciar...