sábado, fevereiro 12, 2005

Um longo domingo de noivado


Acabei de ver o filme e apenas me surge um adjectivo: sublime.

Jean Pierre Jeunet volta a demonstrar o seu enorme talento.

Não sou crítico de cinema e, como tal, não posso elaborar sobre todos os aspectos subjacentes a filmografias semelhantes, nem me considero suficientemente conhecedor da matéria para emitir opinião autorizada. Contudo acho que o cinema é isto. Uma história que se constrói em torno de uma emoção profunda. Sair de uma sala de cinema e querer fechar os olhos porque a emoção que fica é demasiado forte para querer ver algo mais durante os próximos tempos.

A língua portuguesa tem uma palavra supostamente sem tradução noutras línguas - fado. A língua francesa tem uma palavra semelhante - chagrin. E este filme é sobre um Chagrin e explicar o que isto significa é como tentar explicar o que é o fado a um inglês. É preciso ver o filme.

Jeunet constrói uma envolvência extraordinária, misturando a tragédia da guerra com a beleza de uma primavera bucólica da França dos anos 20. Junta a dor com subtis rasgos de um humor muito particular a que já nos tinha habituado no "Fabuloso destino de Amelie". Os detalhes são extraordinários, quer ao nível do guarda roupa, quer ao nível dos pequenos pormenores dos utensílios domésticos ou das diversas habitações. Que dizer da gare de Austerlitz filmada como se a equipa de filmagens lé tivesse estado em 1920, a cidade de Paris com o seu trânsito, o mercado... os planos do farol, enormes. Os actores, excelentes - Audrey Tautou, deliciosa.

E o mar, subtilmente presente, imenso receptor discreto de lágrimas e esperanças... como isto me é familiar.


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