quinta-feira, março 31, 2005

Está calor de Verão.
Cheira a Verão.
E eu cheiro a suor que nem um porco...

quarta-feira, março 30, 2005

O novo código

Já está em vigor o novo código da estrada.
Ainda não li o documento na totalidade mas pretendo manter-me informado.

Em todo este processo a impressão que fica é que o condutor é um monstro irresponsável e que tem que ser dominado e castigado. Acredito que tal possa ser verdade para uma minoria. Tenho percorrido centenas de milhares de quilómetros, pelas mais diversas estradas deste país e, ao contrário daquela que parece ser a opinão vigente, acho que os condutores portugueses são, na sua maioria, responsáveis.

Excesso de velocidade:
Ninguém cumpre o limite de 120 Km/h nas auto-estradas. Será isto uma tragédia? Não me parece. As auto-estradas portuguesas são as vias mais seguras e com mais baixa sinistralidade no conjunto das vias do país. Por exemplo, este fim-de-semana não houve uma única vítima mortal e houve muito boa gente a circular a mais de 120 (ou de 140). Digo-o com conhecimento de causa pois fiz 400 Km entre Sábado e Domingo, debaixo de chuva.
Acho que era perfeitamente aceitável subir o limite para 140 Km/h nas auto-estradas, com as devidas restrições nos pontos onde tal seja desejável.

Álcool:
Uma estatística absurda legitima a afirmação de que os condutores com taxas entre 0,5 e 0,8 mg/l são responsáveis por 27% dos acidentes. Quem o diz baseia-se no facto de que 27% dos mortos responsáveis por acidentes de viação têm essa taxa de alcolemia. Pergunto eu, qual é a percentagem de mulheres responsáveis por acidentes de viação? Ou a de homossexuais? Seria legítimo extrapolar assim que o facto de ser mulher ou homossexual é um factor de risco?
Não estou com isto a querer legitimar a conjugação do consumo de bebidas alcoólicas e condução. Mas acho exagerado, e carece de fundamentação científica, considerar como muito grave a condução com 0,5 mg/l, e a consequente cassação da carta.

Todas as alterações do código têm consequências nos condutores.

Gostaria de ver uma responsabilização dos responsáveis (passe o pleonasmo) pelo estado e traçado das vias.

Gostaria de ver medidas que, em vez de multar o condutor por se esquecer de colocar o cinto - acto que só o prejudica a ele - obrigar a que todos os veículos vendidos em Portugal sejam obrigatoriamente equipados com todos os sistemas de segurança activa e passiva disponíveis.
Faz sentido que o cinto de segurança seja um opcional, ou apenas disponível no modelo topo de gama?
Esta medida seria facilmente implementada com incentivos fiscais de modo a que, um veículo equipado com todos os sistemas, fosse isentado do pagamento de impostos, na proporção que mantivesse o seu preço actual.

segunda-feira, março 14, 2005

O espírito de corpo da ANF

A histeria corporativa dos órgãos representantes dos farmacêuticos mostra claramente duas coisas.
A primeira é que José Sócrates (JS) soube inteligentemente escolher o primeiro adversário para usar como exemplo. Ao tocar no lobby das farmácias, sabia que iria despoletar uma reacção imediata, pois estes senhores protejem o seu império com um afinco digno de nota. JS tem aqui, para além de uma batalha ganha à partida, assunto para alguns meses, tendo certamente toda a opinião pública do seu lado, bem como a Ordem dos Médicos e outro lobby, o do empresariado das grandes superfícies.

A segunda, mostra o poder (ou a sua busca) que certos sectores têm e a impunidade a que se arvoram. O argumento de que a existência de medicamentos fora das farmácias constitui um grave risco de saúde pública, dando como exemplo o excesso de consumo de antipiréticos (normalmente baseados no paracetamol) e os consequentes perigos, é patético.
A quem é que alguma vez foi recusada uma caixa de aspirinas numa farmácia?
Existirá algum cidadão neste país a quem o farmacêutico tenha aconselhado a visitar o seu médico antes de lhe vender uma caixa de Panadol?

E porque é que as farmácias podem vender artigos de sectores concorrentes tais como sabonetes, pasta de dentes, escovas de dentes, champô, creme para a barba, perfumes, etc, etc? Será preciosa a indicação sábia do farmacêutico sobre como lavar a cabecinha ou aplicar o desodorizante?
E quantos farmacêuticos já se arvoraram em médicos, fazendo as suas próprias "prescrições" sem conhecerem a história clínica dos pacientes?

Será que neste aspecto Portugal é o país mais avançado da Europa pois só aqui é que tenho de ir a uma farmácia para comprar uma aspirina?

sexta-feira, março 11, 2005

Homens: tomem bem conta do vosso esperma...

O caso passa-se em Chicago:
um homem quis processar a sua ex-amante por ela ter guardado o seu esperma e, depois de terem terminado a relação, ter engravidado e ter tido um filho, que ele se viu obrigado a reconhecer como pai, depois de um processo judicial com testes de ADN inequívocos.
Foi-lhe fixada a prestação de uma pensão de alimentos no valor de 800 dólares mensais.

Mas Jeremy não se ficou: a sua ex-amante Marcelle, ao guardar o esperma depois de um acto de sexo oral, tinha-o enganado e roubado, já que o destinava a um fim não previsível e que lhe causara um enorme trauma ou sofrimento ("distress").
Mas o tribunal de 1.ª instância considerou que Marcelle não tinha cometido qualquer ilícito, até porque considerou que o esperma tinha sido objecto de uma verdadeira doação e, que uma vez doado, Jeremy não podia exigir a sua devolução... E, para além disso, considerou também o tribunal que os alegados "sofrimentos" do Jeremy não eram suficientemente sérios ou graves para merecerem a tutela do direito.
Mas um tribunal de recurso acaba, agora, de vir esclarecer que, embora Jeremy não possa processar Marcelle por abuso de confiança e furto, já que o esperma foi dado, no entanto, pode processá-la: pode pedir-lhe e obter uma indemnização se provar que Marcelle "fraudulentamente se envolveu em actos sexuais que nenhuma pessoa razoável podia esperar que resultassem numa gravidez, com o objectivo de utilizar o esperma do Jeremy de uma maneira não-ortodoxa e inesperada, causando consequências extremas" ao Jeremy.

É assim a tecnologia: grandes vantagens mas grandes riscos...

in Público 11.03.05

quinta-feira, março 10, 2005

- A senhora aceita um uisque?
- Não posso. Faz-me mal às pernas. ..
- As suas pernas incham?
- Não. Abrem...

quarta-feira, março 09, 2005

Os sábios conselhos das mães

- Pára de jogar à bola todo o dia e vai estudar, para teres um futuro - mãe de Ronaldo

- Porque é que dizes sempre que o leite está com mau gosto? - mãe de Pasteur

- Pára de gritar o dia todo. - mãe de Luciano Pavarotti

- Pára de brincar com essas máquinas ou nunca deixarás de ser pobre.- mãe de Bill Gates
- É a última vez que rabiscas o tecto da sala. - mãe de Miguel Angelo

- Como é que três quartos de hora são relativos? Se chegas tarde à escola, vais ter falta. - mãe de Einstein

- Pára de bater na mesa. Já estou farta desses ruídos. - mãe de Samuel Morse

- Fica quieto de uma vez! Daqui a pouco, também vais querer dançar nas paredes. - mãe de Fred Astaire

- Nada de igualdades. Eu sou tua mãe e tu és meu filho. - mãe de Karl Marx

- Deixa lá os soldadinhos de chumbo e vai estudar francês. - mãe de Napoleão Bonaparte

- E tu pensas que como operário, alguma vez chegas a presidente? - mãe de Lula da Silva

- Pára de mentir e de andar com putas ou nunca serás ninguém na vida... - mãe de Santana Lopes

segunda-feira, março 07, 2005

Afinal temos Ministério do Ambiente

Estava a estranhar não haver Ministério do Ambiente mas felizmente estava distraído.
Diz-se que o ministro é competente. Não vou duvidar. Mas terá a força política para enfrentar os piores "lobbys" como o da água e o da construção civil aliada às autarquias?

Esperemos que sim para bem deste país.

Depois temos o problema da co-incineração.
Em minha opinião acho que, por um lado, é urgente estimular e incentivar a reciclagem a todos os níveis - doméstico e industrial.
Por outro lado, há um problema concreto que obriga a uma solução no curto prazo. E a co-incineração feita em determinadas condições pode ser uma solução.

A garotice

O que se passa no PP? Já está entregue aos garotos?
Esta idei de enviar a foto de Freitas para o PS só me faz lembrar as birras de namoro de adolescentes.
Já agora enviem a de Manuel Monteiro para o PND e a de Lucas Pires para o PSD.

sexta-feira, março 04, 2005

António Vitorino ausente. Estará a preparar as presidenciais?
Mariano Gago na Ciência e Ensino Superior - acho óptimo

Governo anunciado

Acaba de ser anunciada a composição do novo governo.
É impressão minha ou não há Ministério do Ambiente? Mau princípio.

terça-feira, março 01, 2005

A ler

Portugal: o medo de extinguir

Como se já não bastasse a fístula do gato, os guinchos do autoclismo, o arrefecimento global e os acidentes na estrada, certo livro que por aí anda não faz nada bem ao colectivo. Temos a sombra branca, o corpo aberto, a inveja e o medo alojados no código genético, o terror a tolher-nos a vesícula, a amnésia, a gripe espanhola, o fantasma da ópera, os salários em atraso, o défice da Segurança Social, o deixa-andar, os mortos esquecidos, o fogo de Santo Antão, a escrófula no pescoço, e o mais que cabe numa mão-cheia de páginas inteirinhas a zurzir a alma pátria perdida algures entre a Cava do Viriato, o Portugal dos Pequenitos, a janela do Convento de Cristo, o cabo de Sagres e as caixas do Multibanco.

Eu, paralisado, embrulhado na consciência de mim feita em gravetos à procura dos traumas primordiais alojados nas mais finas raízes de uma floresta genealógica esquecida. Afonso Henriques não sai da porta da Casa Branca exigindo ser recebido pelo Bush para lhe dizer que os árabes estão em Lisboa e que precisa de reforço militar para libertar a cidade do eixo do mal; Egas Moniz vagueia com a corda ao pescoço na Avenida Castelhana, insistindo que tem de falar com o rei e já não têm conta os internamentos por suspeita de suicídio e ameaça à integridade de Suas Altezas os Reis de Espanha; Diniz não larga os serviços de protecção civil e o corpo de bombeiros, exigindo um plano contra os incêndios para o pinhal de Leiria; Inês morta e depois louca perde-se nas burocracias dos tribunais clamando por Pedro, pela guarda de seus filhos e por vítima de violência doméstica e assassinato; Afonso Domingues recusa-se a sair da sala do capítulo de Santa Maria da Vitória, explicando aos turistas que aquela abóbada nunca cairá e insiste que todos joguem à macaca e batam com os pés no chão para provar que assim é; Luís Vaz sentou-se no colo de Pessoa a beber cafés, a dizer mal da "Mensagem", dos heterónimos, dos heteróclitos, do Saramago, do Lobo Antunes, assediando adolescentes para uns bacanais na Ilha dos Amores; Sebastião vive errante no aeroporto de Casablanca bramindo uma espada partida, teimando que precisa de um passaporte, de um avião e de nevoeiro para regressar e que não quer saber das leis da emigração e do que diz o pessoal da torre de controlo, explicando-lhe que com nevoeiro cerrado os aviões não descolam e que nem sonhe trazer cavalos brancos para a gare das partidas; Pombal, a dormir em cartões na Rotunda do Marquês, ameaça as pessoas com um terramoto que está iminente e obriga-as a assinar uma lista de apoiantes à sua candidatura à Câmara de Lisboa sob pena de serem todos degolados como os Távora; Amélia não quer saber do acidente de Camarate, exigindo a reabertura do processo da rede bombista e o total esclarecimento das condições que levaram ao assassinato d"el rei seu esposo e do JFK; Salazar arruma carros na Avenida da Boavista e quer que lhe paguem em barras de ouro para aumentar os cofres do tesouro, vociferando contra a fuga ao pagamento da licença de porte de isqueiro, contra o Humberto Delgado, contra o Bloco de Esquerda e que manda toda a gente para o Tarrafal e que os polícias são uns tansos; Amália canta, Lúcia morreu e o Eusébio ameaça ir para o Chelsea.

A minha Maria Augusta fechou-se no sótão por causa desses fólios e jura que nunca mais de lá sai nem que tenha que comer ratos e listas telefónicas velhas e fuma obsessivamente rolos de cotão embrulhados em teias de aranha até que lhe chocalhe o cérebro mirrado sempre que move e nega a evidência em que muda se quedou fechada em si. Cai-lhe o cabelo para dentro da cabeça e com isto se entrelaçam, como no ralo da banheira, meadas enguiçadas em novelos que se enredam nas pregas azougadas dos hemisférios ressequidos.Maria Augusta, tens que sair daí para ir votar! E ela, nada. Maria Augusta anda para a sala ver os debates na televisão! E ela, nada. Maria Augusta anda ver o meu país de marinheiros! E ela, nada. Maria Augusta, eu quero amar, amar, perdidamente! E ela, nada. Maria Augusta, o telemóvel está tocar! E ela, nada. Maria Augusta, anda ver os Morangos com Açúcar. E ela, nada. Maria Augusta, olha o nevoeiro branco! Pé ante pé, como que tomando por epifania cada degrau do sótão, Maria Augusta desce finalmente a escada. Onde? Ali na parede a esguichar do extintor! É neve carbónica, m"ôr, não vês que é neve carbónica? Hã, então é isso e eu que me julgava perdida. Neve carbónica, m"ôr, tanta retórica por causa de um extintor. São Lourenço permita que nunca mais ninguém me ponha a assar a mioleira.

E assim termina a história. O Gil foi ao São Bartolomeu do Mar oferecer uma galinha preta e uma cabecinha de cera e ficou curado. A Maria Augusta e eu habitamos outra vez o mesmo lugar. O gato curou-se da fístula e a andorinha de louça que estava na parede deixou finalmente de tomar os ansiolíticos para o impensável genealógico que lhe tolhia os movimentos.

in Público 1-03-2005, Por Álvaro Domingues