quarta-feira, janeiro 19, 2005

Com 20 anos de atraso

Terá sido há cerca de 20 anos que surgiram os primeiros casos de SIDA.
Desde cedo os cientistas aconselharam o uso do preservativo como medida preventiva.
Desde cedo a igreja católica o condenou. Nada que surpreenda, vindo de uma instituição obscurantisca e virada para os seus dogmas.

Ontem, surpreendentemente, a conferência episcopal espanhola declarou-se a favor do uso de preservativos como meio de protecção contra a sida.
E no resto do mundo?
E em África, onde uma grande percentagem da população é portadora da doença?
Talvez daqui a outros 20 anos mudem de posição, quando o número de créus se encontrar a níveis perigosamente baixos...

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Pois é! (como diria Manuela Moura Guedes), a abertura durou apenas um dia.
Um novo comunicado da Conferência Episcopal Espanhola volta a colocar a doutrina da igreja (qual?) no seu devido lugar bafiento.

"(...) De acuerdo con estos principios no es posible aconsejar el uso del preservativo, por ser contrario a la moral de la persona. Lo único verdaderamente aconsejable es el ejercicio responsable de la sexualidad, acorde con la norma moral. En conclusión, a diferencia de lo afirmado desde diversas instancias, no es cierto que haya cambiado la doctrina de la Iglesia sobre el preservativo.(...)"




terça-feira, janeiro 18, 2005

O homem consistente

Bush não exclui ataque contra o Irão se a diplomacia não conseguir travar o seu programa nuclear.
Já vimos no caso do Iraque as qualidades da diplomacia Americana, bem como as dos serviços secretos, ao encontrar provas irrefutáveis da existência de armas de destruição maciça no Iraque.

Bush continua igual a si próprio e pelo menos tem um mérito - é consistente com os seus princípios - A guerra é o seu objectivo.
Como será possível estar bem com a sua consciência sabendo que por sua causa já morreram centenas de milhares de seres humanos?

O Irão está lentamente a caminhar para uma sociedade mais aberta, desenvolvida e democrática. Percorreu um longo caminho e tem estado em paz. Os reformistas (ou progressistas) têm estado, pacificamente, a ganhar uma posição na sociedade iraniana, após décadas de obscurantismo xiita. Mas isto não satisfaz o sr. Bush. É necessário destruir outro país, matar milhares de inocentes e deitar por terra todo um conjunto de progressos que demoraram gerações a conseguir.

Ao fundamentalismo de Bush respoderão todos os outros fundamentalismos. E nós, aqui ao lado, pagaremos o preço.

O homem que diz adeus

Quem não conhece o Homem que diz Adeus...

Para quem não o conhece, é imperativo passar no Saldanha por volta das 23h e disfrutar de um momento que já faz parte da "nossa" cidade! Como é possivel um simples gesto proporcionar um momento, apesar de um pouco "estranho", agradável para quem passa... Afinal se não fossem estas "pequenas" diferenças, a vida seria sempre igual...O homem que diz adeus. É ele o homem que noite após noite acena aos carros que passam na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. É por ele que tocam as buzinas, que se atiram beijos e sorrisos, que se gritam «boas noites!» e «adeus!», numa «onda de comunicação» que já dura há três anos e que nem sequer ele sabe explicar muito bem como começou.

Numa cidade de estranhos em mundos fechados, este é o seu «milagre». E é também o seu remédio. Há quem lhe chame o «senhor do adeus». Mas «senhor» é coisa que detesta que lhe chamem.Aos 72 anos, João Paulo Serra tem a inocência de uma criança, o espírito de um jovem, mas o olhar nostálgico de um ancião que sente «ter aprendido com a vida tarde de mais». A sua roupa clássica e a ondulação do cabelo grisalho disfarçada com gel, dão-lhe um ar meio aristocrático, que já faz parte da paisagem do Saldanha. Todos o conhecem e quem trabalha nas redondezas sabe o seu percurso de cor.

«Chega por volta das onze, meia-noite... Começa pela zona do Monumental, vai descendo a rua até ao Marquês e depois sobe, parando sempre em pontos estratégicos. Nunca falha.» Arménio é chefe de mesa na marisqueira Maracanã e já lhe serviu alguns jantares. «É muito simpático. Quando passa aqui, acenamos-lhe pela janela. Só não sei: por que é que faz isto?»João começa por dizer que não sabe bem, mas, a pouco e pouco, interrompendo sempre para acenar, vai desvendando o mistério.

Tudo começou há três anos e meio, depois da morte da mãe, com quem vivia. Precisava de se distrair, incomodava-o a ideia de estar sozinho em casa. Um dia, aconteceu. Já reparara que as pessoas o cumprimentavam sem razão, nos centros comerciais e, sem saber como nem porquê, surgiu o primeiro aceno na estrada. Depois veio outro e outro, e o acaso virou fenómeno.
«No início era só rapaziada nova, mas depois contagiei todo o tipo de gente», explica sem esconder um certo orgulho.

Graças ao seu «milagre», já deu entrevistas para a televisão e para os jornais, apareceu em dois filmes e até num teledisco. «Sempre quis ser actor, mas nunca me deixaram...». Ou nunca teve coragem de tentar.Algumas dezenas de acenos mais tarde, já não é um João risonho e despreocupado, «com imensos amigos» com quem vai «ao teatro e ao cinema», que fala por detrás dos óculos de massa negra. Nos olhos cinzentos, estão duas lágrimas contidas. Pelo passado, pelo presente e por um futuro que não chega.

Com um raciocínio de fazer inveja aos mais novos, o louco, o excêntrico, transforma-se lentamente num avô contador de histórias, que lê Agatha Christie para combater o medo ao andar de avião, que não tem telemóvel porque detesta máquinas e que não vê televisão.João nasceu no seio de uma família muito rica. Até aos dez anos, viveu num enorme palacete da Tomás Ribeiro, cobiçado mesmo pelo próprio Gulbenkian. «Que saudades tenho desse tempo... A casa estava sempre cheia de família e amigos...».

Mimado desde bebé, fez a instrução primária toda em casa, com um professor particular, pois no primeiro dia de aulas no Colégio Parisiense chorou tanto, que os pais não tiveram coragem de o mandar de volta. «Fui criado numa redoma de vidro», confessa, explicando:«Naquela época era tudo muito diferente, havia muitos tabus.» Depois do divórcio dos seus progenitores, quando tinha 13 anos, João foi morar para o Restelo com o pai. Por ele, inscreveu-se em Direito, mas depressa desistiu, «era muito chato». Depois de uma igualmente curta passagem pelo curso de Histórico-Filosóficas, o pai, «que não sabia o que fazer» com ele, mandou-o para Londres, com o irmão.
«Foram três anos fantásticos. Tinha um grupo de amigos fabuloso, com quem viajei imenso.
Teria lá ficado, se não fosse tão agarrado à família...» Sem quase pôr os pés nas aulas, regressou a Portugal e, depois da morte do pai, pouco tempo depois, foi morar com a mãe, de quem não se separou até ao último dia da sua vida. «Viajámos muito os dois. Todos os anos íamos a Paris e Madrid. Conheço a Europa inteira, excepto a Grécia...» E o olhar perde-se num momento só dele, como se pensasse alto. Quando a mãe morreu, «ficou desasado». E talvez por isso esteja todas as noites a «comunicar».

Admite que o que faz «não é muito normal», mas não passa sem isso. É o remédio que lhe permite disfarçar a solidão que o consome e o faz olhar para o passado com arrependimento, por não ter ousado viver a sua vida em vez da dos outros.«Às vezes penso que foi tudo inútil...»
No baú dos sonhos perdidos, jaz o curso que não tirou, o trabalho que nunca fez, os filhos que não teve e, pior, o grande amor que nunca conheceu. «Sinto-me só. Incompleto. Como se algo estivesse a falhar.»
E assim lacrimeja quando vê um casal idoso de mãos dadas, ou quando dois rapazes, que diz «reconhecer do subconsciente», param o jipe para tirar uma fotografia com ele. «Encontramo-nos no céu», repete, aludindo ao que um diplomata ucraniano lhe disse uma vez.

O homem do lixo atira-lhe o derradeiro aceno da noite...

Sofia Jesus in Diário de Noticias (23-03-2004)

Vale do Galante - continua tudo em aberto

"O ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, Nobre Guedes, considera que um governo de gestão tem poderes suficientes para aprovar um plano de pormenor. Uma convicção que abre portas à aprovação do Plano de Pormenor do Vale do Galante, terreno situado na marginal da Figueira da Foz e onde a autarquia prevê construir um apartotel de quatro estrelas com 16 andares e, na área envolvente, 298 fogos em sete blocos de apartamentos. O projecto tem suscitado forte contestação de políticos do PS e da CDU, para além dos figueirenses em geral.
Quando, por decisão do Presidente da República, o executivo de Santana Lopes passou a governo de gestão, algumas vozes, como as do deputado socialista Vítor Cunha e Trillo y Blanco, advogado do Movimento de Defesa do Desenvolvimento Sustentável do Vale do Galante, vieram a público defender que o Plano de Pormenor do Vale do Galante não poderia ser aprovado, o que faria recuar todo o processo. Convicções posteriormente contrariadas pelo presidente da Câmara da Figueira da Foz, Duarte Silva.
Ontem, o ministro Nobre Guedes provou que o Governo a que pertence pode aprovar um plano de pormenor, exemplificando com outro, referente a Miranda do Corvo, que deverá ser ratificado, em Conselho de Ministros, nesta ou na próxima semana. Quanto ao caso concreto do Vale do Galante, o governante não dispunha ainda de dados concretos, mas prometeu, nos próximos dias, dar conhecimento do andamento do processo.(...)"

in Público 18-01-2005

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Nova palavra no dicionário de Língua Portuguesa

Santanice (de Português Santana) - acto ou acção de alguém que acaba sempre por prejudicar outro alguém e ser também ele prejudicado com esse acto ou acção, sem ter consciência disso.
Forma de agir inopinada e irresponsável que prejudica toda a gente envolvida directa ou indirectamente na acção, sem que o autor tenha uma consciência absoluta dos consequências dessa acção - "fez-lhe uma santanice", " acabou por se santanizar", "se disse isso vai ser santanizado", estupidez, parvoíce, inexperiência, irresponsabilidade de grande dimensão, efeito negativo de algo dito ou feito por um inconsciente com poder para o fazer.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Efeito da Gravidade por Álvaro Domingues

Ando mesmo sem inspiração e tempo para escrever. No entanto há pessoas a quem não falta inspiração e génio. É o caso de Álvaro Domingues.
Aqui fica mais um seu texto fantástico a raiar o surrealismo nacional.

"Ia a incubadora aos pontapés e à estalada a caminho da reciclagem mecânica e orgânica, quando apareceu a ambulância a alta velocidade debaixo de um intenso tiroteio, assim como nos filmes com "snipers" em cima das árvores e espichados das janelas e bombas de fragmentação a cair, a cair. É verdadeiramente problemático o estado a que chegou o Serviço Nacional de Saúde.

A criança que estava na berma suspendeu a limpeza do ranho que guardava num saco de plástico candidato a um Guiness pelo maior saco plástico cheio de ranhos de uma criança só, que depois seria pendurado na maior árvore de Natal, por sua vez levada para o maior desfile de Pais Natal ou Pais Natais. Como disse? Não interessa agora.
O inocente ranhoso morreu instantaneamente atingido de viés por uma placa da prevenção rodoviária que a ambulância arrastava na vertigem da sua cavalgada de sirenes e relâmpagos azuis, ti nó ni. Paz na estrada, já que noutros locais é ainda mais difícil.
O anjo da guarda preencheu o relatório do acidente e aplicou a respectiva coima. Tudo se passou muito rapidamente. O menino deu a mão ao anjo e descolaram na vertical 3, 2, 1, 0 pelos ares, com um só estremecimento de asa.
O planeta azul só começa a ser interessante quando já não se sente o efeito da gravidade, pensava a alma do infante.

Na berma oposta, um homem de gravata vistosa oferecia um alvo pintado nas costas a uns atiradores de facas. Se fosse um anjo não era grave, porque os anjos não têm costas, como se sabe. O espectáculo era enfadonho.
Pior, só duas semanas seguidas com imagens de devastação, dor, miséria, morte e turistas no Sudeste asiático. Sim, claro, agora já não vou ter todas as condições de férias que iria ter se por acaso não tivesse acontecido nada disto. Por outro lado, estou contente, porque vejo as coisas mais ao natural, como elas são, dizia a tonta para a TV.
Qual é a diferença entre um morto e um desaparecido? Um desaparecido morto é a mesma coisa que um morto desaparecido? Quanto valem quatro desaparecidos em cento e cinquenta mil mortos?

Estranho mundo. A cara do homem de pau apagou-se dos cartazes por causa da carreira académica. Os desígnios dos deuses poderão ser insondáveis, mas a carreira académica tem também grandes mistérios e poderosas razões.
A potência do rio varreu o segundo homem da fila dos pescadores à linha. Onde vai o rio buscar tanta força se é tão escasso o que brota da nascente e vai o tempo tão falho de aguaceiros? Não se sabe.
Pôncio Pilatos despejou a bílis e lavou as mãos no cenário doméstico, em directo, a cores e ao vivo. Contrariando a história, Marco António ainda é capaz de trair César nas escadarias do Senado. Se a relva é fresca enquanto houver quem regue, por que é que não se vende a terra do jardim para acabar de vez com o défice? Como disse? Disse défice, não é patriótico mas dá que pensar.
Quantas vezes mais irá o outro aos estaleiros de Viana do Castelo mostrar o guarda-roupa? Maldito aquele que puser a minha cara no reclame do Skip com "baking soda", porque todo o discernimento lhe será retirado e se cobrirá de chagas e hérnias discais. Ai a vida está cara! Vamos para S. Tomé a ver se é verdade.

Faz-te leve, Maria Augusta, que tudo isto é nada. Por mais que uma vez já do céu choveram sapos. Já um raio atravessou uma cidade inteira e nem uma lâmpada se fundiu. Já morreram tantos, outros esfolados vivos, outros queimados, outros lançados às feras, outros esmagados em lagares de pedra. Já passaram milhões de anos e ainda há pegadas de dinossauros. Há exércitos de ratazanas ocultas nas ruínas. Há milhões de lesmas, de gatos enfezados. Há homens que não falam. Há mulheres prenhes que se recusam a parir. Há olhos que não dormem. Há ouvidos a estalar com os silêncios que habitam as abóbadas das catedrais vazias.

Contudo, floriu ontem o ramo de uma cerejeira e Janeiro vai a meio. Um único gomo, túrgido, urgente de vida, e nem sequer ainda a última folha se desprendera daquela árvore. Fracos presságios, me disse quem sabe que nem só as pessoas enlouquecem. Entre, pois, a música.

Primeiro, em pianíssimo, uma prece de violinos que se vai erguendo em registo sobreagudo até as cordas rebentarem. Pausa para mudar as cordas de sítio e afinar de novo.
Segundo andamento. Recomeçar. O naipe das tubas alinha-se à frente do palco, arranca os pistões e enfia os instrumentos pela cabeça. Entrada dos contrabaixos em uníssono. No fosso da orquestra, procede-se à matança dos porcos. Visivelmente emocionado, o maestro dá um sinal discreto ao coro e às flautas transversais. O coro retira-se em sinal de protesto. As flautas transversais arremetem de frente e em contra tempo. Em desespero, entra o naipe da percussão "ad libitum" e em fortíssimo. Assustados, os porcos galgam o fosso com as facas ainda espetadas e espatifam tudo o que encontram. Cai o pano e ouvem-se os aplausos gravados de uma plateia que fugira em pânico. Os porcos agradecem, limpam as facas aos cortinados, comem os açafates de pepinos que a produção ofereceu e retiram-se para os camarins. Fim da primeira parte. Só muito dificilmente haverá segunda.

Bravo! Apagadas as luzes, é mais clara a respiração da noite."

terça-feira, janeiro 11, 2005

Um epigrama excelente de Carlos Esperança (Diário Ateísta)

A Virgem Maria

Virgem Maria, farta das companhias e do Céu, onde subiu em corpo e alma, aborrecida do silêncio e da disciplina, cansada de quase vinte séculos de ociosidade e virtude, esgueira-se às vezes pela porta das traseiras e desce à Terra.
Traz a ladainha do costume, a promoção do terço de que é mensageira e ameaças aos inocentes. Poisa em árvores de pequeno porte, sobe aos montes de altitude moderada e atreve-se em grutas, pouco recomendáveis para a virgindade e o reumatismo, sempre com o objectivo de promover a fé e os bons costumes, de abominar o comunismo e anatematizar os pecados do mundo.

A receita é sempre a mesma: rezar, rezar muito, rezar sempre, que, enquanto se reza não se peca. Não ajuda a humanidade mas beneficia o destino da alma e faz a profilaxia das perpétuas penas que aos infiéis estão reservadas no Inferno.
Surpreende que, sendo tão vasto o mundo, a Virgem Maria só conheça os caminhos dos seus devotos e abandone os que adoram um Deus errado e odeiam o seu divino filho que veio ao mundo para salvar toda a gente. Fica-se pela Europa, em zonas não contaminadas pela Reforma, aventura-se na América Latina, eventualmente visita a África e nunca mais voltou a Nazaré e àqueles sítios onde suportou os maus humores do seu divino filho e as desconfianças do marido.

Ficando-lhe as viagens de graça, por não precisar de combustível, não se percebe que não volte aos sítios da infância, não vá em peregrinação ao Gólgota, não deambule pela Palestina e advirta aqueles chalados de que o bruto e ignorante Maomé é uma desgraça que se espalhou pela zona como outrora a peste, que a única e clara verdade é o mistério da Santíssima Trindade.
Por ter hora marcada ou para não se deixar seduzir pelas tentações do mundo, a virgem Maria regressa ao Céu, depois de exibir uns truques e arengar uns conselhos, sem dar tempo a que alguém de são juízo a interrogue, lhe pergunte pela saúde do marido e do menino e lhe mande beijos para os anjos e abraços aos bem-aventurados que estão no céu.

Um dia a Virgem Maria, com mais tempo e autonomia de voo, encontra um ateu e fica à conversa. Há-de arrepender-se dos sustos que prega, das mentiras que divulga e chegar à conclusão de que o terço faz mal às pessoas, estimula o ódio às outras religiões e agrava as tendinites aos fregueses.

in Diario Ateista

terça-feira, janeiro 04, 2005

O grande quarteirizador contra-ataca

A Câmara da Figueira da Foz garantiu ontem que o Tribunal Administrativo de Coimbra considerou legais as obras da urbanização do Vale do Galante, ao contrário de informações veiculadas pelo advogado do Movimento de Pró-Valorização Sustentável do Vale do Galante. Em documento enviado à agência Lusa, e assinado pelo presidente da autarquia, o social-democrata Duarte Silva, a edilidade desmente uma informação prestada pelo advogado Trillo Y Blanco de que o tribunal teria considerado ilegal o licenciamento do empreendimento.

Nas declarações de dia 28, o advogado afirmou que o tribunal tinha considerado "ilegal" o licenciamento da urbanização em resposta a uma providência cautelar (interposta pelos cidadãos) cujo "objectivo muito específico era contestar o licenciamento que foi emitido pela câmara".

No documento ontem emitido, o presidente refere que, ao contrário do requerido pelo movimento de cidadãos, o Tribunal Administrativo de Coimbra "indeferiu, não concedeu, a providência cautelar da suspensão de eficácia da licença e alvará emitido por esta câmara". Segundo a autarquia, o tribunal entendeu "que as obras em apreço estavam legais e validamente licenciadas". "Apenas foi ordenada judicialmente a suspensão de obras que o proprietário havia iniciado numa pequena parte dos terrenos incluídos no projecto do Vale do Galante, sem dispor para o efeito da indispensável licença camarária", esclarece ainda o documento.
Contactado pela agência Lusa, o autarca da Figueira da Foz acusa o advogado de "mentir em público, pondo em causa um tribunal".
Duarte Silva revelou ainda que a autarquia vai apresentar uma queixa à Ordem dos Advogados (OA) contra o causídico.

Hoje, Duarte Silva prestará mais esclarecimentos numa reunião de câmara agendada para as 10:00 h da manhã. Tenho pena de não poder presenciar...