quarta-feira, abril 12, 2006

The Wall part V

De acordo com o Público de hoje, o Supremo Tribunal de Justiça considerou como "lícito" e "aceitável" o comportamento da responsável de um lar de crianças com deficiências mentais, acusada de maus tratos a vários menores.

A educadora em causa tinha sido indiciada por utilizar a agressão como método educativo normal, algo que mereceu a concordância do Supremo Tribunal de Justiça.
De acordo com a sentença do STJ, "(...) fechar crianças em quartos é um castigo normal de um bom pai de família. E que as estaladas e as palmadas, se não forem dadas, até podem configurar negligência educacional."

Compreendem-se melhor agora as palavras de Maria José Morgado quando refere que "temos uma magistratura da idade média e de mercearia".
Em que época vivem estes juízes? Que mentalidade infecta o STJ!? O que é um Bom Pai de Família? Não há Boas Mães de Família?
A Lei portuguesa está eivada de resquícios de obscurantismo que, aliás, muito transparecem nas relações dos portugueses com a justiça, e nas relações dos actores da justiça com "os outros".

Não defendo facilitismos na educação das crianças. Detesto crianças mal educadas, muitas vezes por culpa dos pais que não sabem dizer não, ou não estão para perder tempo a explicar aos filhos as regras do mundo em que vivemos.
Eu tenho duas filhas e não tenciono nunca usar de violência física ou psicológica para as educar.
É claro que vão ouvir a palavra NÃO sempre que for necessário.
Evidentemente não terão todos os brinquedos só porque sim.
Não terão sorte ao usar o choro como forma de chantagem.
Aprenderão a dar valor às coisas materiais e à amizade dos outros, pais incluidos.
Mas nunca recearão a presença do pai pois dele só terão compreensão e carinho - e firmeza quando necessário.

Sentenças destas envergonham o país onde foram proferidas.

quinta-feira, abril 06, 2006

"Balada Ditirâmbica do Pequeno e do Grande Filho da Puta"

"I

O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.

no entanto, há
filhos-da-puta
que nascem
grandes
e
filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos,
diz ainda
o pequeno filho-da-puta.

o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.

no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.

todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.

tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequeno
filho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.

de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.

II

o grande filho-da-puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho-da-puta,
e não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

no entanto,
há filhos-da-puta
que já nascem grandes
e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho-da-puta.

por isso
o grande filho-da-puta
tem orgulho em ser
o grande filho-da-puta.

todos
os pequenos filhos-da-puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

dentro do
grande filho-da-puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.

tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos-da-puta,
diz
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho-da-puta.

é o grande filho-da-puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.

de resto,
o grande filho-da-puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho-da-puta:
o grande filho-da-puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho-da-puta."

[Alberto Pimenta]

segunda-feira, abril 03, 2006

Deveres para com Deus

(roubado do blogue "Esplanar")

Todas as noites, e antes de vos entregardes
à masturbação, orai de joelhos.

Admirai a bondade de Deus, que deu a
todas as meninas uma cona para nelas se
enterrarem todas as pissas do mundo, e
que, para vossos prazeres variar, vos
permite substituir a pissa pela língua, a
língua pelo dedo, a cona pelo cu, e o cu,
ainda, pela boca.

Agradecei-Lhe o ter Ele criado para as
meninas as cenouras, para as raparigas as
bananas, as beringelas para as jovens
mamãs, e as beterrabas para as senhoras
maduras.

Se um amante desejardes, pedi-Lho, Ele
vo-lo há-de oferecer. Se for uma fressureira
de quem tiverdes precisão, dizei-Lho
sem falsa vergonha. Porque Deus lê em
vosso coração, e não podeis enganá-Lo.

Não deveis rezar completamente nua.
Vesti uma camisa de noite, não a ergais
pela frente nem por trás diante das
pessoas presentes. Se na vossa rata trazeis
uma pissa postiça em erecção, retirai-a.
Retirai-a também se no cu a trouxerdes.

Dai graças a Deus por vos ter incutido o
desejo de vos virdes, e por ter criado meios mil para o fazerdes.

Quando rezais de joelhos, se alguém dessa
posição se aproveitar para lograr enrabar-vos,
a tal inconveniência não deveis vós
prestar-vos.

Antes de irdes comungar, se chupardes
alguém, não engulais o esperma, pois
assim deixaríeis de ficar em jejum.

Há raparigas que, por demais serem
vigiadas, compram uma virgenzinha em
marfim polido e dela se servem como
pissa postiça. Trata-se, porém, de uma
prática condenada pela Igreja. Podeis, isso
sim, servir-vos para tal fim de um círio,
com a condição de se não encontrar benzido.

Pierre Louÿs, Manual de Civilidade para Meninas, Lisboa, Fenda Edições, 1988 (tradução de Júlio Henriques)